Com aumento de 10,4% no RS, Alegrete está no mapa dos feminicídios em 2022

A violência contra a mulher no Rio Grande do Sul segue em trajetória ascendente em 2022. Ao menos 106 vítimas foram assassinadas por questões de gênero, segundo o mapa dos feminicídios, elaborado pela Polícia Civil.

Em 2021 ocorreram 96 mortes. O aumento é de 10,4%. Muito mais que isso: são 10 vidas a mais que se foram e diversas outras que se modificaram em tragédias familiares.

A alegretense que luta pela plenitude de defesa e do cumprimento da Lei de Execução Penal

Os dados são analisados todos os meses pela Polícia Civil gaúcha e geram um relatório anual. As informações também mostram que havia um movimento descendente de 2018 a 2020. Em 2021, voltou a aumentar os casos.  

Esses crimes ocorreram em 69 municípios gaúchos de diversas regiões. A Região Metropolitana despontou com 39 deles, sendo as cidades de Porto Alegre (10), Alvorada (3) e Gravataí (3) que mais se destacaram. É seguida pela Região Noroeste com 31 feminicídios, 6 desses só em Passo Fundo. Também há registros nas regiões Nordeste (11), Centro Oriental (7), Sudeste (7), Sudoeste (7) e Centro Ocidental (4).

O município de Alegrete lidera as cidades do Sudoeste com dois casos de feminicídios dos sete ocorridos na região. Para a delegada Fernanda Mendonça titular da Delegacia de Polícia do município, o combate a esse tipo de crime envolve muito mais um trabalho de prevenção do que de repressão.

“Se um feminicídio acontece, empreendemos nossos esforços para elucidar a autoria e esclarecer todas as circunstâncias do fato, de modo a enviar ao Ministério Público, que é o órgão que vai fazer a denúncia ao Judiciário, o máximo de informações possíveis para buscar uma punição exemplar ao autor do crime”, explica a policial.

Além deste trabalho, a delegada enfatiza que a polícia busca desencorajar condutas desse tipo. No mais, no dia a dia é feito uma orientação às mulheres vítimas de violência, relatando direitos. “Seja no nosso trabalho policial, de investigação, seja de forma geral à comunidade, sempre que a Polícia Civil tem a oportunidade e o espaço para conversar com as pessoas”, relata.

Sobre os serviços mais importantes na luta pelo fim desse tipo de crime, a delegada reitera que a Polícia Civil faz sua parte, de investigar os casos e buscar a autoria e as informações acerca do crime.

Para potencializar esse trabalho, a Delegacia de Polícia de Alegrete tem um cartório especializado com duas policiais, as quais trabalham com os procedimentos envolvendo violência doméstica.

Delegada de Polícia Fernanda Mendonça faz balanço do ano e das investigações de assassinatos em 2022

“Na delegacia do plantão buscamos atender as mulheres da forma mais digna possível e encaminhamos ao Judiciário os pedidos de medida protetiva quando a mulher deseja. A elas também é oferecido, caso queiram, que sejam atendidas por policiais mulheres e na sala do gabinete, em um espaço mais reservado”, explica.

Em Alegrete, existe um projeto para esse ano ser construída uma sala específica para atendimento de mulheres, crianças e adolescentes, mas o plano esbarra na falta de verba para o projeto.

Contudo, do total de 106 vítimas de feminicídios registrados no ano passado no estado, mais de 80% delas não possuíam medidas protetivas vigentes na data do crime, revelou o mapa. Metade não possuía nem registro de ocorrência policial anterior ao fato. Apesar de apresentar um aumento no número de feminicídios em comparação ao ano anterior, positivamente 2022 foi o período com menos mortes de mulheres em decorrência de outros crimes – quando a vítima não morreu por ser mulher. Foram 154 registros, o menor desde 2018.

Menina, raptada em Alegrete na década de 50, reencontra familiares 67 anos depois

Com idades variadas, a maioria das vítimas tem entre 18 e 24 anos ou está na faixa dos 40 a 44. São solteiras (65,1%), brancas (83%) e com apenas o ensino fundamental completo (52,8%). O mapa ainda revela que das 106 vítimas, 89 eram mães e 43 possuíam filhos com o próprio agressor – 3, inclusive, estavam grávidas na ocasião do crime.
Já quanto aos agressores, a maioria tem entre 25 e 29 anos ou está na faixa dos 45 a 49, solteiros (68,9%), brancos (80,2%) e com apenas o ensino fundamental completo (57,5%). A maioria, 98,1%, é de homens, sendo que 84% desses têm antecedentes policiais – 67% por violência doméstica e familiar. A situação deles varia: enquanto que 68,9% foram presos, 20,8% tiraram as próprias vidas após executarem suas vítimas.

Ainda segundo o Mapa da Violência 2022, em 94,2% dos casos o autor foi companheiro ou ex-companheiro da vítima e em 3,7% havia algum parentesco entre eles. Na maioria dos casos, 72,6%, a residência da vítima foi o local do crime e quase 53% deles ocorreram aos fins de semana.

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