Menina, raptada em Alegrete na década de 50, reencontra familiares 67 anos depois

O tráfico de crianças é uma das formas de tráfico humano, constitui uma prática de sequestro, desaparecimento e ocultação da identidade das crianças, muitas vezes através de partos clandestinos e adoções ilegais. É uma prática usada por quadrilhas para seu financiamento.

Igualmente, tem sido uma prática utilizada em regimes ditatoriais, principalmente como uma forma de retaliação contra as mulheres ou famílias que não são leais ao regime, tal como na Argentina durante o Processo de Reorganização Nacional.

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O tráfico de crianças destina para adoção ilegal, a exploração infantil, tanto para trabalho – serviço doméstico, trabalho escravo em campos, minas, plantações e fábricas – como sexual – para a prostituição e corrupção de menores, pornografia infantil, abuso sexual de crianças – atividades criminais, roubo, retirada de órgãos ou mendicidade e uso militar das crianças.

Diariamente, em várias partes do mundo, existem crianças que são compradas, vendidas e transportadas para longe de suas casas. O tráfico de seres humanos é um negócio multimilionário que continua a crescer em todo o mundo, apesar das tentativas de detê-lo.

O tráfico de crianças constitui uma das mais graves violações dos direitos humanos no mundo atual e ocorre em todas as regiões do mundo. No entanto, foi somente na última década que a prevalência e consequências desta prática ganharam notoriedade internacional, devido a um aumento drástico na investigação e ação pública. A cada ano, centenas de milhares de crianças são contrabandeadas através das fronteiras e vendidas como objetos. 

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Essa introdução se deve a narrativa a seguir de uma história real que aconteceu em Alegrete e, somente depois de quase sete décadas registra um final feliz.

A tentativa de tráfico de uma garotinha, aos cinco anos em Alegrete, somente teve um desfecho feliz, nesta semana, cerca de 67 anos depois.

Falar em algo impactante como o rapto de meninas, parece algo que só acontece em cidades grandes ou que é mais uma história de filmes cujo tema é um grande drama. Contudo, a reportagem do PAT, foi procurada pelo paulistano Mauricio Jacques, de 48 anos, que atualmente reside em Fortaleza/CE.

Ele está em Alegrete acompanhando a mãe, Eni Jaques de Melo, hoje com 73 anos. A alegretense retornou ao seio familiar depois de muita dor por ter sido retirada do seu lar, ainda criança e nunca mais ter retornado para casa.

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O PAT esteve na casa da sobrinha de Eni, onde ela está hospedada e conversou com ela para saber detalhes sobre esse grande dilema em que viveu após ser retirada da casa dos pais, aqui em Alegrete, na década de 50.

O início:

Eni, ainda se emociona ao lembrar, mas acrescenta que quase tudo está em sua memória, embora fosse apenas uma criança de cinco anos.

Ela diz que a mulher que a “roubou”, se aproveitou de um momento de fragilidade de sua mãe, pois um dos irmãos havia falecido, também criança.

A mulher soube do triste episódio e foi na casa, que era muito humilde, de chão batido, para oferecer ajuda.

Durante dois dias, se aproximou da mãe de Eni e ganhou sua confiança, na sequência, a convenceu que iria levá-la até a avó materna, em outro bairro, e sem desconfiar, de que ali seria a última vez em que viria a filha, a progenitora consentiu.

Mas, Eni não chegou ao destino, e recorda que a primeira coisa que a mulher fez, assim que saíram da casa, foi cortar o seu cabelo como se fosse um menino e passou a dizer que o seu nome, a partir daquele momento, seria Margarete.

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Depois, por alguns dias, elas viajaram, foram várias caronas, até que chegaram no Paraná, onde um casal, iria “comprar” Eni, contudo, como havia a notícia de meninas desaparecidas, naquela época foram dez, não houve acerto e a criminosa teve que ficar com Eni.

Pouco tempo depois, ofereceu a menina para um homem, descrevendo que os pais tinham falecido em um acidente e que ela não teria como ficar com a “sobrinha”.

O homem destacou que não poderia levar a menina para casa, pois a sua esposa estava viajando. Desta forma, mais uma vez, Eni seguiu viagem com a mulher que não se deu conta e, por coincidência, encontrou novamente o mesmo homem e voltou a oferecer a criança. Foi então que ele, que à época era mascate, achou a história estranha e acionou a polícia.

No mesmo dia, a mulher que era do Paraguai foi presa pelo rapto de Eni. Entretanto, a modernidade e tecnologia de hoje não eram presentes, naquele período e, mesmo que Eni tentasse dizer algo, não foi ouvida e os pais, não foram imediatamente localizados, portanto, sem ter para onde ir, o homem o qual chamou de tio, se responsabilizou e ela foi tutelada por ele, até que a família fosse localizada, em Alegrete.

A chegada na casa do “tio”

Eni recorda que ao mesmo tempo que o homem tinha um coração generoso e quis acolhe-la, ao chegar na residência e ser apresentada à esposa, ganhou uma inimiga. “A mulher não me aceitou, pensou que eu fosse alguma filha bastarda ou algo assim. A partir daquele momento, eu passei a ser a escrava branca da casa, sem condições de muita coisa, nem mesmo estudar, pois quando estava no sétimo ano, a mulher ressaltou que não teria muito tempo para os afazeres domésticos e eu parei de frequentar a escola. Nesta fase, já morávamos em São Paulo”- comenta.

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A fuga

Aos 18 anos, sem aguentar mais a humilhação que sofria pela esposa do “tio”, Eni fugiu da casa e foi residir com uma amiga. Ela tinha uma farmácia e ela passou a ajudá-la, assim, garantia seu sustento.

O casamento

Aos 20 anos, Eni casou-se com o pai dos filhos, ao total são quatro, porém, a situação não foi muito fácil, pois ele era alcoólatra e durante 11 anos, ela conseguiu suportar, depois, o deixou e encarou a vida, com os filhos.

“Não posso dizer que foi algo assustador, e que estava sozinha, pois sempre estive só. Quando criança e depois no casamento, considerando que não há como ter uma segurança com uma pessoa que sofre com o alcoolismo. Eu não tinha como contar com ele para nada”- relembrou.

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O reinício

Mais uma vez, Eni não esmoreceu e seguiu a jornada. Ela trabalhou em várias frentes, foi diarista, vendeu doces, foi lavadeira e faxineira. Depois de um período, iniciou a sua loja de doces, e com o tempo conseguiu adquirir sua empresa que foi a garantia dela criar os filhos, dar estudo e também adquirir casa própria e carro.

Mas o passado a atormentava

Mesmo com todas as conquistas e os filhos criados, o passado a deixava sempre com uma grande lacuna, algo que a entristecia, mesmo assim, diante da dor que sentia por nunca ter tido o amor de mãe. Eni não gostava de falar no assunto e muito pouco descreveu aos filhos.

Contudo, a filha percebeu que o reencontro com a família iria fazer bem a Eni e passou a procurar por pessoas em alegrete com o mesmo sobrenome, até que chegou a uma sobrinha da mãe. Foi realizado o primeiro contato e quando Eni soube, ficou furiosa, pois não aceitava reviver o passado, por medo do que poderia encontrar.

Mas ela salienta que sempre se questionava, pelo fato de que a família não foi atrás dela naquele período, não a resgatou da sequestradora, nem mesmo quando a mulher foi presa.

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Depois de muito diálogo durante um ano, ela foi pensando na possibilidade de conhecer os familiares, ao saber que ainda havia irmãos vivos e os sobrinhos, algo que os filhos dela nunca tiveram contato, também. “Desde pequeno, meus amigos achavam estranho, pois nós éramos a única família que não tínhamos ninguém, nenhum tio, tia, primos. Éramos apenas nós e nossa mãe”, comenta Maurício.

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Mas foi a morte de um dos irmãos há três meses que fez com que Eni tivesse coragem e pensasse em vir até Alegrete. “Eu sempre pensei que fosse enfartar, que não iria resistir quando esse encontro ocorresse, pois quando a minha sobrinha Fátima(onde está hospedada), me ligou pela primeira vez, eu quase morri. Passei muito mal” – ponderou.

Ela solicitou a ajuda do filho que reside em Fortaleza e eles embarcaram para uma nova etapa na vida de todos.

Fátima, a sobrinha que fez o primeiro contato e responsável por buscá-los no aeroporto em Uruguaiana, disse que sempre ouviu sobre a história da tia que tinha sido sequestrada. Ela é filha de uma das irmãos de Eni que já faleceu.

“Minha mãe sempre falou da irmã que tinha sido sequestrada e ressaltava que a minha avó recebeu um telegrama com a notícia de que teriam a encontrado, mas naquele dia a casa pegou fogo e ela perdeu o documento que poderia levá-la até a filha. Por esse motivo, a minha tia, Diva Marques, nunca se perdoava por ser a irmã mais velha e não ter impedido o sequestro ou ter percebido que a mulher iria levar Eni para outro Estado.”- falou Fatima.

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Sendo assim, quando Eni e Maurício chegaram na última terça-feira, o encontro foi muito emocionante. Eni sintetizou que agora está em paz, assim como a irmã Diva, além disso, considera que a sua história é uma esperança para muitas famílias.

“Se alguma mãe teve seu filho sequestrado, não pode perder a esperança e precisa buscar de forma incessante, pois em algum momento, pode encontrá-lo, como aconteceu aqui. Eu acho que no fundo, nunca imaginei que esse momento fosse possível, mas estamos aqui, para seguir mais uma etapa da minha vida, agora com a família que sempre desejei ter.”- finaliza.

Um dos momentos mais emocionantes o reencontro com a irmã- veja:

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Augusto

Muito interessante e triste a história desta senhora. Por outro lado, me chama atenção de como foi mal escrita esta matéria. Prolixa, falta de coerência e coesão das colocações.