‘Digam a verdade’, diz mãe de jovem morto após abordagem policial em São Gabriel; pai relembra sonhos do filho

Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, foi velado neste sábado (20). Jovem estava desaparecido desde 12 de agosto, após ser abordado pela Brigada Militar. Corpo dele foi encontrado na tarde de sexta-feira (19). Três policiais estão presos suspeitos do crime.

Os pais do jovem Gabriel Marques Cavalheiro falaram pela primeira vez após a morte do filho durante o velório neste sábado (20). O rapaz de 18 anos teve o corpo encontrado na sexta-feira (19), depois de ficar uma semana desaparecido. Ele sumiu após uma abordagem da Brigada Militar (BM), a polícia militar do Rio Grande do Sul, em São Gabriel, na Fronteira Oeste.

A mãe, Rosane Machado Marques, cobrou verdade dos policiais militares envolvidos na abordagem contra o filho. Um sargento e dois soldados estão presos preventivamente desde sexta. Os três, que não tiveram o nome divulgado, foram encaminhados para um presídio militar em Porto Alegre neste sábado após a audiência de custódia.

“Que digam a verdade para nós, o que eles fizeram. Que um deles pelo menos fale, que toque o coração deles. Que um deles fale o que realmente eles fizeram com o Gabriel”, disse.

O pai, Anderson da Silva Cavalheiro, recordou os sonhos do único filho. Apesar de morar em Guaíba, Gabriel decidiu se alistar ao Exército em São Gabriel, onde alguns parentes viviam, por achar que na cidade da fronteira gaúcha teria mais chances de ser convocado.

“O sonho dele era se alistar, servir, se casar com uma menininha que tinha aqui, a Xaxá, comprar um cantinho para ele e cuidar dos cavalos”, lembrou.

“A minha maior dor é que aqui eu não pude estar junto com ele para ajudar”, lamentou.

Despedida e protestos

O corpo da vítima chegou a São Gabriel após perícia no Instituto Médico Legal (IML) de Santa Maria, na Região Central. A causa da morte ainda não foi revelada.

Parentes e amigos de Gabriel participaram do velório durante a tarde de sábado. O enterro está marcado para o domingo (21).

Manifestantes foram às ruas da cidade protestar. Muitos não conheciam Gabriel, mas se juntaram à dor da família. Cartazes com fotos do rapaz foram levados por algumas pessoas. Do alto dos prédios, houve acenos de solidariedade.

“Não dá para aceitar. É uma pouca vergonha isso aí. A segurança nossa fazer um absurdo desse com uma criança que ia servir o quartel. A gente fica chocado”, disse o aposentado Samuel da Trindade.

Relembre o caso

Na noite de sexta-feira (12), Gabriel estava na casa do tio, Antônio. Segundo a advogada da família, ele perguntou se poderia tomar uma cerveja, o que foi autorizado.

Mais tarde, o tio deitou-se e ouviu um barulho da porta sendo encostada. Imaginando que o jovem teria ido fumar no lado de fora, Antônio ignorou o fato e dormiu. Só foi perceber a ausência do sobrinho no dia seguinte

“Foi chamar umas 10h, 11h. Achou que ele poderia ter ido pra casa de um parente próximo. A família começou a procurar e não o achou. Na metade da tarde de sábado, ligaram para os pais dele, em Guaíba, e eles se deslocaram. Foram até a Polícia Civil fazer o registro e, desde então, começou-se a busca incessante”, diz Rejane.

A principal testemunha e autora das últimas imagens conhecidas de Gabriel é a vizinha Paula Beatriz Lima da Silva. Ela depôs à polícia e disse que estava com a filha e uma afilhada quando Gabriel parou junto à grade de seu terreno e começou a gritar pelo nome Paula.

Como não o conhecia e já estava tarde, decidiu ligar para a Brigada Militar. “Vi um movimento muito grande dos cachorros. Ele tava forçando o portão, tentando entrar. Me assustei, não reconheci o rapaz. Vi que não era da vila, não era da cidade, acionei a Brigada”, contou à RBS TV.

Imagens de câmeras de segurança mostram a viatura da Brigada Militar chegando ao local. Paula Beatriz conta que Gabriel foi abordado por três policiais, imobilizado e algemado. Por ser contra a forma como o jovem foi tratado, ela passou a registrar vídeos e fotos com o celular. As imagens gravadas mostram Gabriel sendo conduzido em direção à viatura.

“Acionei a Brigada na intenção de retirar ele, mas não para fazerem nada contra”, afirmou Paula.

Depois, conforme a vizinha, o carro partiu para o lado direito, em direção à localidade de Lava Pés. De acordo com a mãe de Gabriel, Rosane Machado Marques, os policiais disseram que o jovem estava tranquilo, teve as algemas retiradas na viatura e teria pedido para ser deixado lá, onde pediria carona até um chalé nesta estrada vicinal

“Ele foi abordado, com ele nada de irregular foi encontrado, e ele foi liberado”, diz o major Aníbal Silveira.

Em depoimento, os policiais envolvidos na ação confirmaram que levaram o jovem até a localidade de Lava Pés, distante 6 km de onde aconteceu a abordagem. Mas a família rejeita a versão, pois o jovem não morava no município e desconhecia a região.

Além disso, segundo a advogada da família, a câmera de segurança de uma escola e o trajeto apontado pelo GPS da viatura policial mostram que o veículo ingressou diretamente na estrada de chão às 0h05, retornando em torno de 0h12. No entanto, pela baixa qualidade da imagem e pelo fato de as janelas estarem fechadas, não é possível identifica quem está na parte interna do automóvel.

“Vai para o Lava Pés se precisar ir. Tem umas casas de moradia, uma madeireira, um engenho de arroz. Termina o asfalto e começa uma estrada de chão. A passagem de pessoas e de carros é mínima, ainda mais no horário noturno”, descreve Rejane, que é da cidade.

Fonte: G1

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