Em Alegrete, já tem colheita de arroz

O desempenho da safra de arroz 2023/2024 ainda não pode ser definido no Rio Grande do Sul, apesar de a colheita do alimento estar se avizinhando e das perspectivas serem um pouco melhores do que as da safra passada, mas ainda com possibilidade de perdas.

Embora as chuvas trazidas pelo fenômeno El Ninõ sejam um elemento muito favorável à orizicultura, que é uma cultura essencialmente irrigada, o excesso prejudicou o andamento do plantio.

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Com isso, a colheita, tradicional para meados de fevereiro – quando inclusive ocorre sua cerimônia de Abertura Oficial, em Capão do Leão –, deve se concretizar realmente a partir de março. Em Alegrete, o produtor Ralph Steffen, plantou 300 quadras, cerca de 500ha e iniciou a colheita em 29 de janeiro. A lavoura localizada no 2º subdistrito, no Itapororó tem uma produtividade 17% menos em relação ao ano passado.

Segundo o diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Ailton Machado, observou-se plantio do grão em algumas regiões ainda nas últimas semanas de janeiro, em razão de enxurradas que impossibilitaram a entrada nas lavouras para a semeadura. “Por causa disso, podemos experimentar uma perda na produtividade que será compensada pelo aumento de área que ocorreu em relação à safra passada”, comenta.

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Na safra 2022/2023, o Estado semeou 860 mil hectares de arroz, enfrentando problemas com a estiagem e, em algumas regiões, tendo de fazer rodízio nos seus sistemas de irrigação para abastecimento de água nas lavouras, tendo em vista o esgotamento dos mananciais. Neste ano, o Irga estima que foram plantados 920 mil hectares, o que pode levar a uma produção de até 7,8 milhões de toneladas, a depender do clima durante o mês de fevereiro. No ano passado, a produção foi de 7,2 milhões de toneladas.

“Se o mês de fevereiro apresentar bastante dias de insolação, vamos ter boa produção, mas produtividade igual ou pouco superior à da safra passada. O que vai evitar prejuízo do produtor mesmo será o avanço de área”, antecipa. O diretor do Irga cita a meteorologista do instituto, Jossana Cera, que, de acordo com ele, tem identificado nos prognósticos climáticos o enfraquecimento do El Niño a partir deste mês. “Acreditamos que o pior do fenômeno já passou.”

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Machado ressalta que o preço do arroz, o qual chegou a R$ 132 a saca de 50 quilos em dezembro, está em acomodação neste momento, chegando agora, nos primeiros dias de fevereiro à casa dos R$ 120. Ele recorda as mudanças estruturais que vêm sendo feitas pelo produtor no plantio do alimento, em especial a rotação com a cultura da soja, que protege as lavouras de uma série de doenças e, protegendo o solo, garante melhores produtividades e liquidez financeira. Ele salienta, ainda que os relatos que o Irga tem ouvido dos produtores é de que as áreas plantadas se desenvolvem bem e as plantas se apresentam muito bonitas.

Andressa Silva, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), também entende que o futuro da safra do arroz é de incerteza neste momento. Mesmo com o acréscimo de área de 7% na área total plantada nacionalmente com o grão, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Andressa acredita que o desempenho será comprometido pelo atraso na semeadura. Ela relata que a produtividade deve ser menor e que a safra total do Brasil oscilará entre 10,3 milhões e 10,8 milhões de toneladas. “Com chances de ficar mais próximo mesmo dos 10 milhões de toneladas”.

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Conforme Andressa, a entidade recebeu relatos de agricultores de Santa Catarina informando que as chuvas intensas naquele estado ocorreram no período de floração, o que afeta bastante o desenvolvimento das plantas. “Cremos que deve ocorrer o mesmo em algumas áreas do Rio Grande do Sul”, prevê.

A dirigente garante que não vai faltar arroz para o consumo nacional, mas acredita que a demanda por importações deve se manter firme, uma vez que o país também precisa cumprir seus compromissos de exportação. E não descarta alta de preços no produto para o consumidor. “A expectativa é de que o Brasil exporte cerca de 2 milhões de toneladas, mas acredito que possa não chegar a tudo isso, pois não temos preço competitivo e podemos não conseguir colocar todo esse arroz aí fora”, completa. Andressa destaca, porém, que há compromissos internacionais que o país precisa manter, “para não se tornar um mercado pouco confiável e que só exporta quando tem safra boa”. Segundo ela, os mercados de Peru, Estados Unidos, Países Baixos, Espanha, Cuba e Arábia Saudita são os maiores compradores do arroz brasileiro.

O professor da Esalq/USP e pesquisador para grãos do Centro em Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucílio Rogério Aparecido Alves, analisa que o maior problema sofrido pelo arroz brasileiro e que influenciou na rentabilidade da cultura ao longo dos anos foi a baixa demanda. “Isso fez com que os preços do arroz ficassem baixos e a cultura não se mostrasse rentável ao produtor”, diz.

Alves ressalta que foi a partir dessa necessidade de melhorar seus rendimentos que os agricultores passaram a optar pelo plantio da soja ou mesmo de pastagens, o que ajustou a oferta orizícola e fez os preços melhorarem. Por outro lado, o pesquisador salienta que no ano de 2023 houve a menor disponibilidade de arroz do século 21. “A menor produção e a menor disponibilidade. A menor disponibilidade é quando a gente considera estoque inicial, mais produção e mais importação. A ponto, inclusive, de os estoques em dezembro de 2023 serem suficientes para menos de nove semanas de consumo”, explica.

Os preços experimentados pelo arroz brasileiro no ano passado surpreenderam o produtor e foram o estímulo necessário para que se plantasse mais. O professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea Lucílio Alves explica o fenômeno que impulsionou as cotações. “O Brasil teve uma menor oferta em 2023. Tivemos uma demanda interna muito boa, tivemos excedente, esse excedente conseguiu ser exportado em uma boa parte (70%), e isso reduziu a nossa relação estoque/consumo para menos de nove semanas. Então é isso que fez com que as cotações chegassem próximo dos maiores patamares históricos em termos reais”, diz o pesquisador.

Para o futuro, Alves não vislumbra no mercado internacional uma alteração nas relações de estoque e consumo, o que deve manter firmes as cotações do produto. “Não há sinais de grandes mudanças de taxa de câmbio, por isso a gente teria uma paridade de exportação ainda atrativa, vamos dizer assim, ou sem ser pressionado, sem grandes reduções”, detalha. O professor também não aposta no aumento da disponibilidade interna de arroz, cujo consumo médio nacional deve se manter nos 10,2 milhões de toneladas. Segundo ele, o suprimento interno deve se estabelecer em patamares inferiores a 14 milhões de toneladas. “Se as exportações ficarem na casa de 2 milhões de toneladas no ano de 2024, nós teríamos uma relação estoque/consumo até menor do que a de 2023, ficando neste ano por volta das oito semanas e meia aproximadamente”, calcula.

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Lucílio salienta que os valores de comercialização ainda não atingiram seu ápice histórico. Os números obtidos em janeiro, de em média R$ 129 a saca de 50 quilos, desconsideram a inflação. “O varejo está com uma alta de 24,5% em 2023 contra 41,1% do arroz em casca, ou seja, o varejo ainda nem absorveu toda a alta que o produtor teve e já está reclamando”, complementa, ao dizer que não vê, também, espaço para grandes variações positivas no preço. Na opinião dele, 2024 deve apresentar um cenário sazonal em que em momentos de maior oferta pós-colheita, necessidade de pagamento de custeio e, portanto, necessidade de venda do arroz em casca, podem levar a uma variação negativa, que não tende a ser expressiva.

O trabalho do setor arrozeiro para adequar oferta e demanda já vem de alguns anos e foi ele que conseguiu tirar a atividade de uma situação pouco atrativa para o agricultor, em especial aquele que se dedicava exclusivamente à orizicultura. O presidente da Cooperativa de Cereais de Camaquã (Coopacc), Volzear Longaray Junior, lembra que por muito tempo não se sabia ao certo qual era o consumo nacional do alimento. Indústria e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divergiam sobre o número, que por vezes era 11 milhões de toneladas e outras 12 milhões de toneladas por ano.

Produtor e dirigente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Longaray está plantando neste ano 550 hectares de arroz e 500 hectares de soja. Segundo ele, neste ano o investimento em ureia foi maior e a expectativa de colheita é de cerca de 200 sacos de arroz por hectare. Para ele, as relações de preço vão além das questões de oferta e demanda e têm a ver também com a qualidade do arroz brasileiro. “As pessoas não sabem o calvário, o sofrimento que foi o do produtor de arroz e quantos ficaram no meio do caminho nessa trajetória, que não suportaram, porque foram anos muito difíceis que a gente atravessou”, recorda.

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Tanto sofrimento, pontua, acabou por provocar uma seleção natural no setor, que hoje deixou de ser monocultura e passou a ser multigrãos. “Eu mesmo estou introduzindo milho já dentro na minha rotação, alguns produtores estão trabalhando com integração lavoura-pecuária. Há dois ou três anos, a soja, por exemplo, pagou a conta. Estávamos vendendo o arroz a R$ 50 o saco no início da pandemia, 2019/2020”, reflete. Ele diz que países desenvolvidos chegam a ter um ano de consumo em estoque de passagem, o que não afeta o preço de mercado. “No Brasil não acontece isso. Se nós tivermos um mês de consumo a mais sobrando, a indústria diz que tem arroz sobrando e o preço despenca”, reclama.

O presidente da Coopacc, contudo, acredita que o orizicultor está num bom caminho e cita os exemplos de Dom Pedrito e Cachoeira do Sul, municípios que inverteram a área de arroz para soja e hoje não retomam mais o plantio do arroz como cultivo principal. “O mercado deve se acomodar a partir da colheita, vamos ter exportação”, opina o dirigente, para quem o setor vive um estágio novo em que a cadeia tenta reorganizar seus cerca de 8 mil produtores e 150 beneficiadoras.

A safra com produtividade questionável e a necessidade de atender mercados para os quais o Brasil exporta arroz não devem abalar o abastecimento interno, cujo consumo se mantém em 10 milhões de toneladas há pelo uma década.

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O presidente do Sindicato da Indústria do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Carlos Eduardo Borba Nunes, faz questão de lembrar que o arroz é um alimento ainda muito acessível aos consumidores de todas as classes sociais. Segundo ele, um pacote de arroz de cinco quilos pode custar entre R$ 25 e R$ 30, proporcionalmente menor ao preço do feijão e do macarrão, por exemplo. O peso sentido pelo consumidor no bolso, aponta Nunes, se deveu a um ajuste de mercado que se fazia necessário e aos custos tributários do alimento gaúcho, maior produtor nacional, cuja indústria tem a mais alta carga de impostos do país.

“Mas o abastecimento do país para 2024 nós consideramos que está garantido. Vamos ter uma safra razoável no Rio Grande do Sul, houve um aumento de área em torno de 7%, mas não quer dizer que vai aumentar 7% a produção porque nós tivemos um ano de El Niño. Então nós achamos que a produtividade vai ser um pouquinho aquém do ano passado.” diz. A produção gaúcha, estimada entre 7,5 milhões e 7,8 milhões de toneladas, somada à produção de Santa Catarina e Centro-Oeste e ao contingente possível de ser importado do Paraguai, Argentina e Uruguai, vai ser suficiente para abastecer o país no ano fiscal de 2024, afirma o dirigente.

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Carlos Eduardo ressalta a importância do país continuar exportando o arroz em casca e o produto beneficiado. Na análise dele, é este movimento que vai continuar impulsionando o produtor a plantar mais sem deixar que o preço do grão volte a ser aviltado. Para o empresário também há contrassensos internos que influenciam a precificação do arroz. “Teremos um aumento em abril bem significativo do ICMS, porque o arroz foi tirado da cesta básica; nós temos um aumento da CDO (taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura), tudo isso impactando no preço”, pontua. Por parte do governo federal, Nunes comenta do aumento da taxa de classificação na importação, que, garante ele, chegou a 620%. “Então, os governos, tanto estadual quanto o federal, reclamam do preço, mas não fazem nada para que o produto chegue mais barato à mesa do consumidor”, observa.

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O presidente do sindicato acredita que o plantio de arroz para 2025 se mantenha em ritmo de crescimento já que a expectativa de preços firmes deve se manter ao longo deste ano. Mas ele alerta para a necessidade do setor pensar no longo prazo e lembrar da importância do livre mercado e da exportação como importante regulador internacional, tornando viável exportar quando o preço diminuir e importar por valor dentro do razoável quando necessário.

“Eu não tenho dúvida que nós vamos ter uma redução muito grande das exportações tanto do casca como do beneficiado, em razão de que o nosso preço hoje não está competitivo no mercado internacional. O mercado internacional suporta 22 a 23 dólares a saca, e nós estamos com o mercado interno superior a isso”, avalia Nunes. Para ele, a exportação deve atingir 1 milhão de toneladas neste ano, enquanto a importação promete ser superior, com volume entre 1,6 milhão e 1,7 milhão de toneladas. “Vamos ter um déficit na balança da safra de 2024, mas isto é o mercado que dita”, reconhece.

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De acordo com o titular do Sindarroz Uruguai, Argentina e Paraguai têm excedentes exportáveis e mesmo que os preços brasileiros baixem, deve entrar no Brasil arroz paraguaio, já que o mercado brasileiro é o principal comprador do grão daquele país. De acordo com Nunes, mesmo que os níveis de exportação do Brasil fiquem em torno de 1 milhão de toneladas, o que faltar vai ser compensado pela entrada dos estoque dos países do Mercosul.

O empresário também comenta que os hábitos alimentares nacionais mudaram, o que vem influenciando o consumo do cereal no país, estagnado há mais de 10 anos na casa dos 10 milhões de toneladas anuais. “Deixamos o equilíbrio perfeito do arroz com feijão, e a população tem migrado mais para os produtos industrializados, o que aconteceu também em países como os Estados Unidos”, frisa. O setor, informa ele, vê a situação com grande preocupação, uma vez que os produtos de nicho, como o arroz integral, e que atraem consumidores preocupados com a saúde, representam ainda uma fatia muito pequena do mercado.

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