Estabelecimentos raiz: armazéns, vendas ou bolichos resistem às modernidades e ao tempo

Seu Monteiro mantém um dos mais antigos armazéns da cidade. São 82 anos de portas abertas para os clientes do interior e da cidade.

O PAT foi até a rua Daltro Filho e conversou com Gladir Duarte Monteiro, hoje com 79 anos. Muito receptivo e sorridente, ele, orgulhoso, falou do comércio que teve no. início na década de 40 com o pai- Dorival Vila Monteiro.

Uma realidade em vários bairros da cidade e no interior, os armazéns e bolichos, parecem ocupar outro tempo e promovem um diálogo próprio com a população do entorno.

Ocorreu um período em que esses comércios eram onipresentes em Alegrete, para muitos parecem existir dentro de outro tempo, em que as coisas antigas são sempre novidade.

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Um dos exemplos na cidade, que ainda está em pleno funcionamento é o mercado Monteiro , a mercearia que é uma verdadeira “bodega”, das mais tradicionais. Tocado pela família de há mais de 80 anos, o espaço conserva quase todo o mobiliário de quando começou as atividades. 

Acessando o armazém, se encontra muitos elementos que estão há décadas ilustrando a vida de centenas de pessoas. Balcões e prateleiras em um tom escuro que não se vê mais hoje em dia, “coleções” de garrafas de bebidas e canecas que deixaram até de serem comercializadas. Também se vê lembranças da venda de produtos a granel, como uma balança, com pesos em bronze para equilibrar e descobrir o quanto está sendo vendido e outra próxima à porta que Monteiro destaca – ela pesar mais de 300 kg.

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O icônico baleiro está lá, sortido de bombons, caramelos e chicletes. Sempre girando. Tem a geladeira que foi adquirida há mais de 50 anos, a balança com 110 anos, era do avô de Monteiro – atual proprietário, além disso conserva duas tulhas e toda a aura de quem está ali há muitos carnavais. “Outro detalhe: conheço todos esses moradores do interior – de todos os rincões, situa Monteiro.

Como todo bom armazém de antigamente, o lugar nos aureos tempos, era uma festa para os olhos e oferecia de tudo: gêneros alimentícios, itens de limpeza e ferragem, roupas, guloseimas, tecidos, artigos de armarinho, secos e molhados, produtos a granel, enfim, o que os consumidores necessitassem. 

Muito orgulhoso do trabalho que deu a ele sustento, assim como permitiu que daquele espaço a família também tivesse toda as suas necessidades supridas, o comerciante acrescenta que entre os anos de 85 a 94 o comércio era muito forte e foi o momento em que atingiu o auge do movimento. A esposa, Luci Monteiro(in memorium), também auxiliava no balcão e fazia salgadinhos.

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A ideia sempre foi sustentar a família a partir da venda de itens miúdos, mas vitais no cotidiano. Para além dos quilos de arroz e feijão, por exemplo, há vassouras, roseta de espora, copa para chapéu, lampião de querosene, aparelho de barbear(gilette), chapéu de palha, canecas, linhas, bebidas, ração, entre outros.

“A venda no inverno é a melhor, tenho canos para fogão entre outros itens de ferragem”- destacou.

Por muitas décadas, as famílias vinham aqui para realizarem o “rancho”, pois aqui encontravam tudo que precisavam. Mas tudo vai mudando e a pandemia, mais recentemente foi um grande problema para todos os comerciantes, eu não fechei por completo pois tinha alimentos, mesmo assim, a venda caiu muito. Para não perder algumas, atendia na porta, devido a falta de máscara dos clientes. Eles ficavam lá fora e eu que ia até eles”- destaca.

O alegretense ressaltou várias vezes que não sabe ao certo até quando vai manter o comércio, coleciona fregueses de décadas de trabalho. Nada de disputa acirrada. O foco é manter a tradição, otimizar os dias.

O que seria vintage em locais que tentam emular esse estilo, ali é tudo na base da “bodega” raiz.

“O armazém sempre foi uma referência para as pessoas da cidade e do interior”- disse o comerciante que reside nas imediações e comentou que, em 2011 passou por um grande susto quando um caminhão desgovernado bateu na parede da frente, por volta das 13h. “Foi um susto imenso. Ficou tudo aberto, até o conserto tive que contratar uma pessoa pra ficar aqui, durante a noite”- lembrou.

Para encerrar, muito feliz, ele se emocionou ao ser lembrado e por ter o local reconhecido – ” agora, o armazém – hoje mercado Monteiro – vai ficar ainda mais conhecido”.

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