Preço da lã desestimula o ovinocultor que vê retrocesso nos valores de comercialização

Atualmente, a lã crua, em sua absoluta maioria, tem o Uruguai como destino. O país vizinho compra e processa cerca de 8 milhões de quilos da nossa matéria-prima.

Produtor Cícero pondera acerca da valorização da lã
Produtor Cícero pondera acerca da valorização da lã

A lã, única fibra natural que o Rio Grande do Sul produz encontra-se em dificuldade de comercialização. No passado, com um rebanho de 12 milhões de ovinos. Hoje, com um rebanho de aproximadamente 4 milhões e com uma produção inferior a 10 milhões de quilos de lã, o setor encontra-se fragilizado.

A cadeia que tem início na retirada da lã da ovelha e termina no consumidor, hoje encontra-se prejudicada, pois os grandes mercados Europa e China, estão retraídos na aquisição da fibra, transformada em tops por nossas indústrias, conseqüentemente, interrompendo a cadeia, pois as indústrias nacionais estando com dificuldades de comercializar, somente adquirem a fibra bruta na medida da lenta demanda, repercutindo nas cooperativas de lã, conseqüentemente no produtor, que entrega a sua produção nas cooperativas, que estão descapitalizadas, sem a promessa de liquidez a curto prazo, com preços aviltados em relação à safra passada.

Lã embalada já para ser comercializada

Atualmente, a lã crua, em sua absoluta maioria, tem o Uruguai como destino. O país vizinho compra e processa cerca de 8 milhões de quilos da nossa matéria-prima e envia o produto beneficiado, principalmente, para a China, a maior compradora do mundo, seguida pelos Estados Unidos e outros países asiáticos.

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Os preços variam conforme a raça e a micronagem, ou a “finura” da lã. As de melhor qualidade, como as oriundas da raça Merino Australiano, considerada fria e utilizada na confecção de ternos, entre outros bens, por se adaptar tanto ao frio quanto ao calor, há três anos atrás valiam R$ 20,00 o quilo no mercado interno, hoje não passa de R$ 16,50. As da raça Ideal, segunda mais valorizada, sai por R$ 15,00 o quilo, hoje comercializada a R$ 12. Um exemplo do mau momento e em relação a lã da ovelha Corriedale, maior parte do rebanho gaúcho, representando 70% do total, rendia até R$ 12,00 o quilo ao produtor, atualmente não passa de R$ 6.

Produto estocado em Alegrete

Entre os produtores o entendimento é quase unânime. Eles entendem que é preciso olhar todo o conjunto com muita atenção. “Esse preço da carne não chega nem próximo do produtor. Há poucos dias o preço do Cordeiro não passava de 8 reais. Então a situação da carne não é muito diferente da lã”, destaca o produtor Cícero Peres Pereira.
Para ele, o que está acontecendo é que os preços estão liberados na ponta, para felicidade de empresários e atravessadores.
“Outro dia um empresário me pediu ovelhas, me pagava o preço do dia. Estava em torno de 7.50. Quando cheguei no balcão de carnes, estavam vendendo a R$ 40 o quilo. Aí é brabo. De fato é desalentador. Se a lã não subir, não sei o que vai acontecer nos próximos anos. Crio por ter gosto pela atividade”, resigna-se.

Cícero cria ovinos no Rincão de São Miguel

Cícero que também trabalha com ovinocultura no distrito de Rincão de São Miguel, contesta se a carne tem esse valor, como a lã o valor não chega nem a 10% do valor do quilo da carne, sem contar que a pele da ovelha não tem comércio, protesta.

“Somos todos sabedores que ovino tem duplo propósito sem entrar em méritos de raças. Me parece que a classe dos ovinos está sem representatividade pelos líderes do agronegócio. Deixar de criar ovelhas ninguém deixa por paixão e por estar no segmento da atividade primária”, comenta.

Preço elevado da carne e diferente quanto a valorização da lã

O que chama atenção do produtor é que o mercado da lã e um mercado silencioso, segundo ele. “Ninguém tem dados, ninguém sabe nada, não existe órgãos reguladores, não se presenta quais são as perspectivas de mercado. É um mercado livre, que cada um diz o que quer e coloca o preço que acha melhor”, rebate Cícero.

Com pouca mercadoria e preço abaixo do esperado, alguns empresários do ramo dizem que o preço é avaliável e gira em torno de R$ 2 a R$ 16,50. O valor da esquila é cotado em R$ 7,50 e o quilo de lã da raça Corriedale paga cerca de Seis Reais, já a Ideal sobe para R$ 12 e Merino chega a R$ 16,50.

Processo pós tosquia

Em relação ao faturamento, o comércio de lã no município de 2020 a 2021 caiu cerca de 25%, e a produção daqui segue para duas cooperativas na região, uma em Quaraí outra em Santana do Livramento.

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Roberto Monteiro

Isso é o capitalismo… quem pode mais, chora menos… ou se organizam ou serão sucumbidos pelos aproveitadores… quem se lasca no final é o consumidor, que só não tem lã, pois de resto, é tudo ovelha, indo quietinhas para o matadouro… e umas ainda gritam mito… talkei???

Vitorino Dorneles

O empresário Cicero Pereira esta correto. A ovino cultura é uma atividade importante no sistema de produção, mas, o pouco preço da lã é um problema de longa data. Claro que, o custo de produção de ovinos é rateado entre lã e carne. A lã é uma fibra nobre, tanto quanto linho e seda. Deveria ser mais valorizada.