Técnica de enfermagem que perdeu o marido para a Covid, implora: “pelo amor de Deus, se cuidem”

A pandemia de Covid-19 deixa um rastro de dor e sofrimento quando assola fatalmente pessoas de todas as partes do mundo. No último dia 3, uma das vítimas fatais do vírus foi o empresário alegretense Elisandro Fagundes Severo. Ele estava com 43 anos e era proprietário do Burgers Beef, em frente à empresa Witt Pneus.

Em entrevista ao PAT, a esposa Eliane Vargas, ainda muito emocionada descreveu um pouco da trajetória do esposo e deixou um recado para todos os alegretenses em relação à Covid.

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Ela inicia descrevendo que Elisandro trabalhou por mais de 20 anos no Serviço de Inspeção Federal do Frigorífico Marfrig, uma das atividades que mais amava, mas passava por muito stress e não tinha tempo para família. Então, quando a planta fechou anos atrás, na reabertura, Elaine pediu para que ele não retornasse e foi a partir deste momento que decidiram abrir uma empresa, ter o próprio negócio.

“Ele passou seis meses estudando hambúrguer, o jeito e modo de fazer, aprendeu tudo sozinho no Google e depois passou tudo pra mim. Pois sempre dizia que eu precisava saber fazer tudo por que era só eu e ele. Desta forma, no dia 9 de junho (2020), estava tudo pronto pra inaugurar Burgers Beef, o sonho dele sendo realizado e o medo de que não desse certo. Elisandro tinha um medo enorme, pois tinha investido tudo ali e pensava nos três filhos pequenos pra criar. Tudo pelos filhos que amava” – fala Elaine.

A técnica em enfermagem continua dizendo que o esposo falava que eles não tinham experiência, iniciaram de olhos fechados, por que era tudo novo em relação aos lanches. Ele sabia e conhecia carnes, o pai e a mãe eram açougueiros, do antigo açougue do Elisa ao lado do Nero da Ponte Seca. Mas lanches, o desafio iria começar.

Depois de uma pesquisa, escolheu o ponto e optou pela frente da empresa Witt Pneus. “Deu tudo certo e a Burgers, “bombou” e, já nos dois primeiros meses, ele já tinha se ressarcido de tudo o que havia investido. Sempre preocupado com tudo, dizia que o lanche tinha que ser feito com amor e escolhia os melhores produtos. Primava pela qualidade e se dedicava de corpo e alma ao Burgers Beef” – destacou.

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Elaine acrescenta que o marido adquiria tudo a vista, pois comentava que sempre se trabalhava em um dia para comer no outro e principalmente a preocupação em não faltar nada aos filhos  Murillo(13), Mariana(10) e Manuella(4). Elisandro tinha a preocupação e conversava com os filhos para que fossem sempre honestos.

“Ai os sonhos foram se realizando, ele conseguiu comprar a caminhonete dos sonhos, tudo de melhor para o Burgers Beef. A preocupação comigo era uma constante e pediu pra eu deixar o meu trabalho, sou técnica de enfermagem há 20 anos na Santa Casa. Saia do hospital direto pra trabalhar na Burgers com ele, cansada, que muitas vezes eu só parava às 2h, mas tudo era compensador. Era nosso sonho se concretizando cada vez mais. E hoje a Burgers Beef com muito sucesso, clientes maravilhosos, sem os quais não tinha dado certo, além dos amigos da Witt Pneus, Thier e Virginia que sempre foram maravilhosos conosco em deixar que colocássemos na calçada para atendimento, tudo dando certo e ele partiu. Me deixando sozinha, sem rumo”- descreve emocionada.

Elaine afirma que o esposo era uma pessoa maravilhosa, estava sempre de bem com a vida, brincando com os funcionários. Eles estavam juntos há 17 anos e viviam um para o outro e pela família.

Todos que chegavam no trailer tinham conhecimento de todas as medidas de prevenção e de todos os protocolos. Elisandro era muito rigoroso com todos os cuidados.

Elaine descreve que o trailer era higienizado com álcool 70% e com a pandemia os cuidados só aumentaram. Ela ressalta que não imagina como ele se infectou, que começou com uma tosse seca no dia 30 e febre. Dia 31, ela pediu orientação no hospital e iniciou com o kit hidroxicocloroquina, Azitromicina e prednisolona. Tudo por que naquele momento, ele não quis consultar.

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A virada do Ano Novo, ficaram sozinhos em casa, mas ele estava apenas com uma tosse sem nenhuma dor e dormia normal. Elaine passou a monitorar a saturação e percebeu no dia 1° que havia caído, estava em 88%, ela já ficou preocupada e não dormiu monitorando. A partir daí, a saturação começou a ficar mais baixa e ela decidiu que eles iriam fazer um teste. Os dois foram na farmácia e a suspeita dela se confirmou, Elisandro testou positivo para Covid-19. Imediatamente, ela o conduziu para o gripário e o Raio X apresentou que o pulmão direito estava praticamente todo comprometido. “Neste momento vi que a situação era apavorante, não me contive e conversei com ele. Tive a impressão que ele sabia de tudo que iria acontecer, só me olhava e me pedia, por favor para não deixá-lo sozinho, agarrado na minha mão. Porém, mesmo trabalhando lá, não tinha como cuidar do meu marido, meu teste deu negativo. Eu saí de lá e foi o fim, ele se entregou. E da noite pro dia nos deixou.”- diz comovida.

Para encerrar, Elaine deixou uma mensagem aos alegretenses: pelo o amor de Deus temos que se cuidar, manter o distanciamento fazer o uso do álcool em gel e da máscara, pois só quem vive isso sabe o quanto é aterrorizante, e as pessoas estão brincando achando que não dá em nada. Mesmo trabalhando na área da enfermagem não consegui cuidar o amor da minha vida e agora preciso ser forte pelos nossos filhos.

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Em relação ao sonho de Elisandro, que se concretizou na Burgers, Elaine disse que vai seguir trabalhando como o marido. Com toda dedicação que ele depositava em cada dia trabalhado. Pois a sensação foi de que ele a preparou para esse momento, sempre com muito zelo, carinho e amor.

 

Flaviane Antolini Favero