Técnica de Enfermagem se emociona ao vacinar a filha adolescente

A emoção de vacinar a própria filha, também foi um momento de oração e gratidão para a técnica em enfermagem Carla Gonçalves.

Carla Cristiane Lopes
Carla Cristiane Lopes

Em entrevista ao PAT, muito comovida, a profissional da área da saúde que representa toda uma classe que está de forma incansável, desde o início da pandemia atuando na linha de frente contra a Covid-19, falou de vários períodos desde que o novo coronavírus “chegou” no Município, entre eles, a dádiva de aplicar a vacina na primogênita que é adolescente – Sofia Pereira.

Depois de aplicar a vacina em grande parte da população de Alegrete, além de alguns amigos, conhecidos e familiares, chegou a vez da filha, que fez tudo valer a pena, cada dia e cada trabalho realizado exaustivamente.

Carla disse que, no dia em que chegou a idade da filha, elas foram para a fila, como todos os demais adolescentes, sem privilégios, depois, ela seguiu trabalhando e, no momento em que o imunizante seria aplicado em Sofia, as colegas a chamaram para que ela pudesse aplicar. “Foi extraordinário, ter nas mãos a vacina, é como se eu tivesse dando a ela um nova chance, acima de tudo, a proteção para seguir o caminho com saúde e não estar mais tão vulnerável. Minha boca secou, minha mão ficou trêmula e eu apliquei aquele imunizante com muita fé, pedindo a Deus saúde e proteção”- comentou.

O trabalho na pandemia

Falar da imunização, também foi a oportunidade para destacar um pouco do que foi o trabalho dos profissionais de saúde desde o início da pandemia em Alegrete.

Carla comentou o que poucos sabem, pois o início foi muito tenso para todos. Ela disse que virou uma espécie de garota propaganda da vacinação com sua toquinha azul que tem um lindo significado. A técnica em enfermagem que se formou no ano de 2000 atua na Secretaria de Saúde do Município. Carla cita que quando realmente tiveram conhecimento e a proporção do que seria o vírus, os materiais estavam chegando no Brasil e as toucas, máscaras ainda eram mínimas para a demanda que seria. Foi assim que que, em meio ao desespero, o pouco conhecimento que todas tinham, elas passaram a confeccionar máscaras e toucas. As técnicas de Enfermagem da ESF da Bento Gonçalves(PAM), formaram uma oficina de corte costura e todas produziam, além das voluntárias que se uniram, sendo uma delas a irmã de Carla, responsável por confeccionar a touca azul que ela usa até então em homenagem ao desprendimento da irmã que se engajou à causa e atuou no fronte da linha de produção naquele momento. A população também realizou algumas doações – lembra.

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O início da vacinação

Depois de muitas perdas, de exaustivos períodos trabalhando na linha de frente, para cuidar dos pacientes, chegou o anúncio da vacinação. Carla recorda a euforia e alegria de todos, a noite que antecedeu a primeira remessa, a equipe que iria trabalhar não dormiu – comenta.

Foram meses na linha de frente, com a preocupação constante em salvar vidas e também sem esquecer que a família, de certa forma, ficava vulnerável diante do impacto do vírus. Embora todos os cuidados, o receio de infectar um familiar sempre foi constante.

Então, ela se disponibilizou para participar da primeira equipe que iria vacinar as primeiras pessoas no Município e depois a sequência de todos os demais. Assim, ocorreu o primeiro drive thru. Carla fala com emoção da fila imensa e todos os idosos. O carinho e amor que recebeu de cada um naquele dia, diante da comoção do imunizante.

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“Não tem como esquecer, foi uma época que nos aproximou ainda mais da espiritualidade, nas primeiras vacinas, por mais que eu tivesse toda a experiência, a minha mão tremia e, enquanto eu aplicava fazia uma oração para que o imunizante realmente fizesse o efeito e fosse capaz de proteger a cada um. Os idosos eram muito amáveis, eles também nos abençoavam e isso nos fortalecia. Agora que “calmou”, eu entendo que o fôlego que eles nos deram com o amor e carinho, iria nos impulsionar até aqui, com a vitória. Isso diante de alguns percalços, não colhemos só flores, também tivemos muitos espinhos pelo caminho”- explicou.

Essa colocação da técnica foi em razão de muitas ofensas que sofreram diante de algumas informações destorcidas ou mal colocadas. Ela cita que muitas pessoas, sem conhecimento, falaram que eles teriam privilégios ou os familiares e isso não foi verdade. Todos atuaram dentro do correto sem nenhum bônus a mais. Todos os profissionais passaram pelas etapas que tinham que ser cumpridas, assim como, os seus familiares.

A alegria sempre foi um grande combustível conforme os imunizantes iam aumentando, assim o número de pessoas vacinadas, os grupos e todos iam passando por nossas mãos, amigos, conhecidos, esposos, esposas, pais, avós, filhos, entre outros. Eu apliquei a vacina no meu esposo, na minha irmã, mas na minha filha foi diferente – é muito especial – indescritível – pontua mais uma vez.

Para finalizar, Carla ressalta que a logística de uma campanha de vacinação exige muito da epidemiologia, uma organização muito grande. O que algumas pessoas não entendiam é que a logística já vem pronta. Não é a Secretaria de Saúde que define quantas doses vai para cada ESFs e qual a faixa etária, grupo… tudo já vem especificado do Governo do Estado – através do Ministério da Saúde.

Todos os profissionais da linha de frente atuam com muito amor e neste período vivemos muitas histórias, algumas tristes, mas também àquelas que nos marcaram pela solidariedade, empatia e altruísmo de vários munícipes. Entre os exemplos, de uma idosa que por um bom período se tornou uma espécie de Uber das amigas. Ela era responsável por levá-las no drive thru, as vezes mais de uma no carro ou retornava para a fila e em dias distintos, tudo para que todas as pessoas que ama, tem carinho ou zelo pudessem garantir a imunização.

Foram filhos levando os pais, netos levando os avós, famílias inteiras se vacinando, isso tudo faz com que a gente se encha de ocitocina (hormônio do afeto) levando a vacinação com mais esperança – concluiu.

A vacinação da filha da técnica em enfermagem ocorreu no mês de setembro quando houve a liberação para os adolescentes em Alegrete.

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