Trabalhador, alegre e com sonho de servir no Exército: quem era o jovem de 16 anos morto com facada durante briga em Rosário do Sul

Segundo a Polícia Civil, a briga que culminou com a morte de Anderson da Silva Leonardo, foi motivada por uma rixa entre jovens de dois bairros diferentes

Anderson da Silva Leonardo

Aos 16 anos, Anderson da Silva Leonardo estava feliz com o primeiro emprego. Após alguns meses procurando, ele começou a atender na recepção de um cursinho no município onde morava, em Rosário do Sul, na Fronteira Oeste. Quando chegava em casa, dividia com a família, animado, como tinha sido o dia. Depois, ia fazer exercícios para melhorar a resistência e condição física, se preparando para quando pudesse prestar serviço no Exército, um sonho do qual falava todos os dias. Há cerca de um mês, na madrugada do dia 30 de outubro, no entanto, o caminho que o jovem traçava foi interrompido: ele foi golpeado com uma adaga ao ser agredido por um grupo, e não resistiu.

O responsável pelo golpe, um jovem de 20 anos que não teve o nome divulgado, foi preso, conforme a Polícia Civil. Em 22 de novembro, ele foi indiciado por homicídio qualificado e outras cinco pessoas por vias de fato. Cerca de 12 pessoas se envolveram na briga, desferindo também chutes e socos contra Leonardo. O caso ocorreu na Praça Borges de Medeiros, no centro da cidade. Segundo a investigação, a briga foi motivada por uma rixa entre jovens de dois bairros diferentes.

Anderson morava com a irmã e a avó em Rosário do Sul, onde nasceu. Na infância, chegou a morar alguns anos na região da campanha, onde os pais vivem até hoje. Ele retornou a Rosário em razão dos estudos. O jovem tinha ainda outra irmã.

Anderson era aluno do nono ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Oliveira Thaddeo, no turno da manhã. À tarde, ia para o cursinho onde atuava na recepção. Ele havia começado no trabalho havia cerca de cinco meses, e estava animado com a função, conta a irmã Renata da Silva Lopes, 21 anos.

— Ele sempre quis trabalhar. Como aqui é uma cidade pequena, é mais díficil de arrumar um serviço. Então quando ele conseguiu, ficou muito feliz, animado. Chegava em casa todo dia contando do trabalho. Tem uma senhora, a mãe do chefe dele, que é bem idosa e ele sempre a ajudava, fazia companhia. Adorava conversar com ela. Era muito comunicativo.

Apesar da animação com o novo emprego, Anderson tinha um sonho maior, de servir no Exército. Este era outro assunto recorrente no dia a dia, lembra Renata.

— O sonho era ir para o quartel, ele estava contando os anos para se alistar. Era o assunto que ele mais falava. Tem uns amigos que são do Exército e ele ficava perguntando como era, queria saber tudo. Em casa mesmo ele já fazia uns exercícios para se preparar para o alistamento.

Anderson também gostava de sair com os amigos e de jogar futebol em um campinho perto de casa, depois do serviço.

Segundo Renata, o irmão não tinha desavenças nem participava de brigas. No dia do ataque, ele estava com um tio na praça do município. Por volta das 6h daquele domingo, ele foi atacado por três jovens, e depois mais pessoas passaram a desferir agressões. O tio dele e a avó, que estaria por perto, tentaram apartar a briga. O tio também foi agredido. A família afirma que ele teve um corte na cabeça, mas está bem.

— Ele nunca foi de briga. A gente fica até surpresa porque ele não era nem de discutir. Sempre me contava tudo o que acontecia com ele. Eu nem reconheceria meu irmão se me dissessem que ele brigou com alguém. Era alegre, divertido, estava sempre fazendo alguma brincadeira, gostava de ajudar as pessoas. Atacaram ele por causa do bairro que moramos, porque tem uma implicância de umas pessoas daqui com outro bairro, como uma rixa.

Em homenagem e pedindo por Justiça, a família de Anderson fez uma manifestação quando a morte completou uma semana, após a missa de sétimo dia. Com cartazes, o grupo fez uma caminhada em volta da praça onde o jovem foi morto.

— A gente pediu por mais segurança, policiamento, e por Justiça. Queremos que quem fez isso com ele pague e que nenhuma outra família passe por algo assim — lamenta Renata.

O enterro do jovem foi realizado no dia seguinte a morte, em 31 de outubro, no cemitério do município. Após o falecimento, a prefeitura de Rosário do Sul se manifestou por meio da secretaria de Educação lamentando a morte do aluno da rede municipal de ensino e prestando condolências aos familiares, amigos e colegas da vítima.

Investigação

O inquérito da Polícia Civil foi concluído na terça-feira (22), com o indiciamento, por homicídio qualificado, de um jovem de 20 anos, que seria o autor da facada que matou Anderson. Ele não teve o nome divulgado e está preso desde o dia 11. Outras cinco pessoas foram indiciadas por vias de fato. O tio da vítima também foi indiciado, por fornecer bebida alcoólica ao sobrinho menor de idade, que estaria bebendo da praça no dia do crime.

Conforme a investigação, em 28 de outubro, um grupo de jovens se envolveu em uma discussão. O motivo seria uma rixa entre eles, por serem de dois bairros distintos do município. Um amigo de Anderson estaria envolvido na briga, mas o jovem não.

A briga que causou a morte da vítima seria uma continuação desta discussão anterior. Na madrugada de domingo (30), Anderson estava acompanhado de um tio. Um grupo teria os provocado e uma discussão começou.

Conforme a polícia, no momento em que a vítima atravessava a rua, foi atacada pelas costas por três indivíduos. Um deles, o que está preso, teria desferido um golpe com uma adaga. No total, cerca de 12 pessoas se envolveram na briga, desferindo chutes e socos contra Anderson. Segundo a necropsia, o objeto usado perfurou a coluna do jovem e atingiu um dos pulmões.

De acordo com o delegado Giovanni Lovato, a partir de imagens de câmera de segurança que flagraram a briga, foi possível identificar o autor do golpe.

— As imagens mostram apenas esse jovem com um objeto nas mãos. Ele dá um golpe nas costas da vítima e se afasta do local em seguida. As agressões seguiram, com outros envolvidos dando diversos socos. Passaram a agredir o tio dele também. Pelo relato, esse tio e a avó não viram ele ser ferido com a faca. Ele saiu para um canto, andando com a mão nas costas, e caiu ali perto. Acabou falecendo no hospital. É uma completa bobagem, uma rixa de bairros que resultou na morte desse jovem — relata o delegado.

Segundo a polícia, durante buscas na residência do suspeito, foram apreendidas peças de vestuário e acessórios que ele usou no momento do crime. A adaga não foi localizada pelas equipes.

Ao ser ouvido pela polícia, o preso negou envolvimento, afirmou que não estava com a adaga nem com o grupo.

— Ele negou, mas há diversas contradições na versão dele e das testemunhas. A principal é que ele foi visto horas antes com o mesmo grupo e uma testemunha afirma que ele portava uma arma branca.

Defensoria Pública do Estado, que defende o homem preso, afirmou que ingressou na Justiça com pedido de revogação da prisão preventiva, “por entender que, até o momento, os elementos apresentados pela polícia não comprovam a participação do acusado”.

O inquérito é analisado pelo Ministério Público, que deve decidir sobre a denúncia nos próximos dias.

Fonte: BRUNA VIESSERI – GZH

Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários