Um relato poderoso de uma alegretense que viu o filho vencer a leucemia

A força emocional das crianças torna possível serem pessoas resistentes, que têm a coragem e a confiança necessárias para atingir seu potencial máximo. Essas características vamos ver em cada detalhe que a mãe do Inácio da Costa da Souza, hoje com 4 anos. Quando estava com dois anos, esse guerreiro foi diagnosticado com leucemia e a vida da família uma drástica mudança, como descreve a mãe Lilly Ferreira da Costa.

Na hora da notícia, uma dor aguda perfura a alma, as lágrimas são incontidas, olho no olho nos acalenta lentamente. De repente um outro olhar nos fortalece, surge uma força estranha. A maternidade nos transforma em montanhas intransponíveis quando se trata de filhos. Ser mãe é vencer desafios, atravessar obstáculos, derrubar rótulos e romper barreiras. Pois eu pensava, por que isso não aconteceu comigo?- cita.

 

Lilly aceitou falar com a reportagem pois, mais do que a alegria de ter um diagnóstico positivo, hoje, ela também acrescenta a importância da doação de medula. “Leucemia não é anemia mal curada. O que há, é muita falta de informação a respeito do assunto, anemia não leva a leucemia, é justamente o contrário. Lembro que a primeira pergunta que fiz ao médico quando ele deu o diagnóstico foi de que aquilo poderia ser responsabilidade minha, se tinha sido algo que deixei de fazer. Ele me respondeu na mesma hora que não, jamais. A leucemia é uma loteria, foi um” azar” apenas”- comentou.

 

O início

Em fevereiro de 2019, alguns familiares começaram a comentar que o Inácio aparentava estar muito pálido, foi neste momento que Lilly o levou a uma consulta, a pediatra solicitou exames de sangue e pediu que fosse feito no mesmo dia. Algumas horas depois da coleta, a mãe de Inácio recebeu uma ligação do laboratório dizendo que o hemograma  estava muito alterado e a médica pediatra Dra Estela Simões, ligou para a irmã Lilly falando da situação e solicitando que a levasse até o consultório pois o quadro era grave.

Lilly lembra que a irmã que naquele momento foi seu porto seguro e foram juntas ao consultório onde a Dra Estela explicou que ela deveria procurar um médico hematologista com urgência. No dia seguinte, foram a Santa Maria consultar um especialista e a partir dali o Inácio já foi internado, primeiramente, no Hospital de Caridade para que fossem feitos outros exames, a fim de investigar o real diagnóstico. “Eu fiquei sozinha com ele no Hospital enquanto minha irmã se deslocava até Alegrete para buscar nossa mãe, sabíamos que independente do que fosse, Inácio teria que ficar algum tempo internado, pelo menos até normalizar os valores de hemograma. E foi sozinha, com meu filho na época de 2 anos e meio, que recebi o diagnóstico de leucemia. Perdi o chão completamente.”- recorda.

O tratamento

Como o tratamento particular seria inviável pelos valores da medicação, quimioterapias e internações, eles foram encaminhados ao Hospital Universitário, na ala CTCRIAC. “Em três dias nossas vidas tiveram uma mudança radical, eu lembro de ter a impressão de estar num pesadelo, eu tinha quase certeza que iria acordar a qualquer momento, foi um baque muito grande, a todo momento eu pensava “meu Deus, eu quero estar no lugar dele”-fala Lilly.

Na sequência, ela lembrou que chegaram no HUSM à noite e, no outro dia, já começaram a pegar acessos pra iniciar o tratamento.

Inácio era muito pequeno e não entendia nada do que estava acontecendo, arrancava os acessos, chorava e pedia muito pra ir pra casa. “Não consigo descrever o tamanho da minha dor naquele início. Ele ficou internado por 45 dias, ficamos todos esses dias juntos, passando por tudo aquilo eu e ele. As visitas da minha mãe duravam uma hora apenas, porque a criança que faz tratamento oncológico tem a imunidade muito frágil. O Inácio ele não se alimentava com nada que viesse de fora do hospital e nem respirar o ar que vinha de fora. Esses primeiros dias foram cruéis, ele perdeu muito peso, os corticóides fizeram perder muita musculatura, ele sentia dor, perdeu o cabelo, foi uma época que eu me apeguei muito a Deus, porque nessas horas a gente percebe que só tem a ele, não existe dinheiro no mundo que compre saúde” recordou a mãe.

 

A caminhada

Mas apesar de tudo,  o prognóstico era bom, havia uma grande chance de cura sem precisar de transplante, e Lilly ficou com Inácio, de fevereiro à setembro, internando muitas vezes pra fazer quimioterapia. As idas para casa eram sempre rápidas. Lilly lembra que nunca desfazia completamente as malas, pois a qualquer piora que ele tivesse, teria que levá-lo a Santa Maria. Entretanto, em outubro do mesmo ano, a boa notícia, Inácio entrou em manutenção da doença, ou seja, ele não interna mais, a medicação é feita por via oral, em casa.  Porém, ainda vai todo mês consultar em Santa Maria, coletar sangue, pra ter o controle total mas, hoje, tá livre da doença.

“Ele ainda faz uso de medicação, além de quimioterapia, também precisa de medicação pro intestino e fígado, que ficaram sobrecarregados pelo tratamento pesado da doença, se Deus quiser em abril de 2021, termina o tratamento. A alta médica só daqui há 10 anos, mas pra mim, ele já venceu, tá curado, tá bem, tá feliz e muito amado. Ele é um vencedor”- enfatiza.

Durante o período do tratamento, Lilly foi abençoada com uma gestação e ela escolheu o nome de Gabriel em homenagem a um amiguinho que o Inácio teve, mas que infelizmente foi vítima fatal da doença por demora de um transplante de medula, disse Lilly.