A soma da idade dos dois chega a 201 anos; essa, sim, é uma longa história de amor e cumplicidade

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se exacerba facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta - Coríntios 13:4-7.

Gomercinda Viana Otaran e Paulo Otaran

O amor é o segredo – assim inicia a fala de Gomercinda Viana Otaran que está com 98 anos. Ela é casada há 71 anos com seu grande amor, parceiro de vida e amigo, Paulo Pereira Otaran de 103 anos.

O casal recebeu a reportagem do PAT na residência localizada no bairro Ibirapuitã, em Alegrete, onde residem há mais de 6 décadas.

Ambos saudáveis dentro das realidades de cada um, pois nenhum tem alguma problema mais severo de saúde, algumas dores, medicamentos pra pressão e o restante, é de dar inveja para muitos jovens, principalmente, pela lucidez e sapiência de vida.

Uma relação que teve como base sempre a fé, incondicional de ambos, e o amor se fortalece a cada dia e, durante a entrevista, foi possível presenciar o brilho no olhar, o cuidado e o encantamento de um pelo outro, algo que o tempo nunca mudou, apenas fortaleceu. Em mais de sete décadas casados, eles destacam que nunca discutiram , algo que é confirmado pelos filhos que os acompanham e, quando questionados do segredo, sem titubear respondem – amor e fé.

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O casal é um exemplo para os filhos de união e solidez. Orgulhosos, o que mais acrescentam é a satisfação, a alegria e gratidão pelos filhos, seis – todos formados. “Eu não tive como estudar, trabalhei desde muito cedo em casa de famílias, mas os meus filhos – todos eu formei” – comenta Gomercinda.

Numa tarde agradável, o que mais se destacou durante a conversa, além do acolhimento, foi a alegria, a gentileza e a forma terna e carinhosa que fica sempre explicita em tudo o que um fala do outro.

Os anos passaram, mas para eles, o tempo em nada mudou desde o primeiro beijo, o amor e a fé são indissolúveis. O cuidado e carinho quando um fala do outro desde o início da relação até os dias atuais demonstra a raridade de uma união baseada na confiança, respeito, cumplicidade, sapiência e amor.

Alguns rituais permanecem intactos, entre eles a oração. Eles frequentam Igreja há mais de 76 anos, são oriundos da Assembleia de Deus, mas há 23 anos migraram para Igreja Cristo é a Solução. “Até poucos anos, se ajoelhavam todas as noites para orar, mas devido a idade, hoje, eles sentam na cama, mesmo assim, de mão dadas, não deixam um dia sequer passar sem que a oração seja realizada”- explica o filho.

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Além dos idosos, na residência, os filhos, Júlio e Marta se revezam e são os responsáveis pelos cuidados da casa e do casal. Tudo é feito com muito amor e dedicação. Eles cuidam da organização da casa, alimentação e medicamentos, além dos passeios e consultas.

“Em um determinado tempo, percebi que a mãe, por vezes, estava esquecida e, em razão da saúde deles, pensamos em contratar uma cozinheira, mas a mãe sempre foi a responsável por todo cuidado da casa, por isso, ela não iria se adaptar, então decidimos que iríamos nos revezar”- comentou.

Neste momento, ele relembra que a mãe sempre trabalhou, desde muito cedo e que lavava roupas para militares, algo que a avó materna também fazia, acrescenta Júlio.

O filho lembrou de pontos distintos e inesquecíveis, como o momento em que Paulo foi pedir para namorar Gomercinda. Sorrindo falou – na primeira vez que fui na casa da mãe dela, fiquei parado no portão, pois não tive autorização para entrar. Ela tinha “lavado” a casa e, mesmo com chuva não me deixou entrar. Naquela época, ela trabalhava muito com a mãe dela e, mesmo depois que passei a frequentar a casa, no período em que ficava lá, ela estava passando fardas e, por esse motivo, eu disse que, no momento em que casasse comigo, não iria mais precisar trabalhar (fora), falou Paulo.

E, assim foi, depois do casamento, Gomercinda assumiu a casa e o cuidado dos filhos. Posteriormente, cuidou também da mãe e da sogra. Paulo sempre foi o provedor do lar.

“No final, trabalhei como açougueiro durante 40 anos e tenho muito orgulho – acrescenta Paulo.

Ele fala que foi um rapaz tranquilo, trabalhador e sem vícios e, durante os 71 anos de união, apenas um período ficou três anos afastado de casa para trabalhar, mesmo assim, o salario, todos os finais do mês estavam na conta para Gomercinda, além de vir pelo menos uma vez, em 30 dias em casa. Quando surgiu a proposta para ir para outro Estado, Paulo disse que no ato pediu para se desligar da empresa e retornou para Alegrete. “Não saberia viver muito tempo longe da minha família”- citou.

Mais uma vez o filho contribui destacando que o pai sempre foi um típico gaúcho que usava bombacha diariamente e montava a cavalo até os 80 anos, quando levou uma rodada ao laçar um terneiro. “Toda vida dele, era sua bicicleta que o levava por tudo e a tradicional bombacha, tem uma que ele sempre gostou muito que guarda como recordação e tem mais de 60 anos”- comenta.

Até os dias atuais, sempre que a família se reúne, eles cantam o hino. O casal teve seis filhos Maria Madalena(in memorian), José Luiz, João Batista, Maria Helena, Paulo César e Júlio Roberto. E, no total, são 11 netos, 15 bisnetos e um tataraneto.

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