Filhos e familiares de vítima de feminicídio relatam o sofrimento de Nair ao lado do assassino

"Monstro que se dizia pai e marido. Ele nunca ajudou a Nair com nada. Ela foi responsável pela criação dos meninos e também sempre trabalhou muito para vestir, calçar e dar alimento.

Confiamos na Justiça, ele precisa ser condenado pelo que fez”- relatam familiares da alegretense que foi covardemente morta pelo companheiro na última terça-feira(19).

Nair Terezinha Fernandes Lima de 45 anos, estava dormindo quando o acusado de 50 anos a estrangulou. Na sequência, ele foi até a Delegacia e se entregou relatando, a versão dele sobre o ocorrido.

No domingo(24), cinco dias após o crime, a família de Nair conversou com o PAT. Na casa da mãe, Elaine Terezinha Fernandes Lima, estavam também os filhos de Nair, Thales Lima de 20 anos e Gustavo de 16 anos, além de irmãs, cunhados, tios, sobrinha e padrasto. Todos muito emocionados e ainda incrédulos com a crueldade e frieza pela forma que o Luiz Claudio assassinou Nair.

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O desabafo iniciou com a família, destacando que ele jamais a ajudou ou foi um bom marido, embora os filhos destaquem que nunca presenciaram o pai agredir fisicamente a mãe, a pressão em que ela sofria psicologicamente era muito forte. Hoje, eles entendem ainda mais o quanto ela foi uma grande guerreira, pois sempre fez tudo para defender os filhos e os familiares.

Thales e Gustavo, acrescentam que a mãe era uma pessoa maravilhosa que sempre fez tudo por eles, trabalhou duro a vida toda e pontuam – nunca tivemos pai, ele sempre foi nosso patrão.

“Trabalhamos desde muito cedo e éramos responsáveis por toda lide da chácara. O leite que ele vendia na cidade, quando estávamos lá, representava cerca de 300 litros por dia, depois que saímos, não conseguia trazer dez litros por semana. Nossa mãe dormia em uma peça que era um galpão onde a cabeceira da cama tinha nos fundos um galinheiro e, ao lado ficavam as ovelhas, não tinha piso e as frestas eram enormes, mas ela ficava ali para que nós pudéssemos dormir na única peça mais fechada do galpão. Ela fazia tudo por nós, trabalhava muito, cuidava dos animais e da casa.

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O relacionamento com os filhos e com Nair

Mas nunca era o suficiente, ele sempre foi muito egoísta e mesquinho, pensava só nele e escondia o dinheiro. As brigas deles era em razão da avaria dele que não pensava em ninguém. Mesmo quando um de nós ficava doente, era nossa mãe quem comprava os medicamentos ou nossa avó, tias ou a bisavó, que compravam- descrevem.

Um outro episódio que Gustavo recorda foi quando ficou muito doente, era criança e a mãe pegou parte de um dinheiro que o pai estava economizando para comprar materiais para fazer a casa deles no interior, eles moraram até dois anos atrás na localidade da Palma. Neste dia, o Luiz Claudio ficou irreconhecível e a xingou muito, independente ser algo extremamente necessário para salvar a vida de um dos filhos.

Em outra ocasião, Nair ficou na casa de uma irmã, pois o caçula estava muito doente e durante todo tempo em que esteve na cidade, eles acrescentam que Luz Claudio nunca perguntou pelo filho e passava na esquina, mesmo assim, nem mesmo um litro de leite deixava, os ignorava.

A mãe

A mãe de Nair disse que eles acreditam na Justiça, mesmo assim, acrescentam que estão aguardando para que possam dar a versão da família sobre o monstro que ele sempre foi, mas que a filha jamais falou e não admitia por medo das consequências, hoje, eles imaginam que ele a ameaçava e ameaçava os filhos, talvez, por isso, Nair suportou a violência psicológica que sofreu e a mesquinharia do companheiro.

Eliane, muito emocionada, ressaltou que todos buscam saber, também, o que ele fez com o telefone de Nair pois ficou apenas o carregador na tomada, o aparelho desapareceu.

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Ela e os netos disseram que há dois anos, Nair rompeu de vez a relação com Luiz Claudio e resolveu buscar emprego na cidade e passou a residir no bairro Capão do Angico, onde ela e os filhos eram responsáveis pelo sustento da casa e o pagamento do aluguel.

O primogênito, chegou a ficar cinco anos sem falar com o pai, em razão das grosserias de Luiz Claudio que o chamava de mulherzinha, pois ele ajudava Nair nos afazeres de casa. Thales entrou no quartel e saiu de casa, ficou independente, sendo que Nair passou a residir com o filho mais novo de 16 anos.

Porém, Gustavo, sempre trabalhou e durante a pandemia estudava on-line e trabalhava como servente de pedreiro, para ajudar a mãe no mercado e no aluguel. Nair estava em laudo da empresa e iria permanecer por mais um período, já que a perícia tinha sido realizada na semana anterior que foi morta. Ela tinha um problema grave na coluna.

A manhã do crime

Gustavo disse que acordou por volta das 6h20min, a mãe e o pai estavam dormindo. Luiz Claudio ficava em um sofá na sala e Nair no quarto. “Há um ano mais ou menos, ele passou a frequentar a casa, mesmo com as negativas da nossa mãe, foi ficando e até animais morreram na chácara pois ele deixou de cuidar, não aceitava que nós não iríamos mais ser os escravos dele, para fazer todo serviço e ele pegar o dinheiro e não nos ajudar em nada, sendo a família da nossa mãe que a ajudava a nos vestir e calçar. Sem contar que ele sempre disse pra ela que não gostava que meus tios e meus avós frequentassem nossa casa. Um certo dia, quando estava retornando da cidade e viu que meu avô estava lá, ficou no mato, apenas para não cumprimentá-lo. Ela sofria com essa possessão, e num certo período ficamos cerca de cinco anos sem falar com nossos tios, avós ou ver alguém, pois ele proibia – comenta o caçula.

Na sequência ele segue a narrativa sobre a manhã do feminicídio, Gustavo acrescenta que antes de sair para escola, falou com a mãe e combinaram de ir no centro, e logo ela voltou a dormir. O pai estava no sofá da sala e ficou acordado quando ele saiu.

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O adolescente acredita que logo depois, Luiz Claudio se aproveitou da situação em que Nair estava dormindo para estrangulá-la. “Nossa mãe era uma mulher forte, ele não teria chance alguma com ela acordada. Foi muito cruel, frio e calculista. Sair dali e ir dizer que era um bom marido, bom pai e sempre deu tudo, é a maior mentira que ele poderia dizer, pois ele sempre foi o monstro que matou nossa mãe”.

Os filhos pontuam que Luiz Claudio nunca foi um bom pai, nunca deu carinho, nunca deu nada a eles. Além disso, ressaltam que ele sempre foi muito ganancioso. As discussões com Nair eram por dinheiro, pois ele queria que ela e os filhos trabalhassem como escravos, mas não tinham direito a nada.

A discussão na noite anterior ao crime foi em razão de que ele viu uma conta de água e de luz, que juntas chegavam ao valor de 300 reais no máximo e por ter falado que iria pagar, iniciou uma grande discussão e ele ofendeu Nair e o filho pelo valor. Luiz Claudio assegurou que era algo exorbitante.

Mas para Gustavo, ele ter dito que iria pagar tinha sido mais uma tentativa de convencer Nair a voltar com ele para o interior, algo que ela não iria fazer, nem ela, nem os filhos.

“Nossa mãe foi a responsável por tudo, por nos cuidar, nos amar e nos dar tudo. Ela trabalhou muito a vida toda, ficou com sérios problemas na coluna por levantar terneiros, cuidar de toda lida, plantar, cuidar da casa, viver como ele permitia, o que era muitas vezes desumano, mas fazia para nos proteger. Agora, ela estava buscando uma vida diferente, mesmo assim, tudo o que tínhamos era em razão dela. Ele sempre foi egoísta, possessivo e nos tratava como empregados dele. Embora nunca tenha nos agredido fisicamente, nem nossa mãe, sabemos o que passamos. Mas ela tinha medo por nós, até pelo fato de que há um tempo até uma arma de fogo foi adquirida e isso a assustava. Nunca ficamos sabendo ao certo sobre as ameaças, ela nunca falou. Nossa mãe era aquela pessoa que estava pronta para ajudar todos, esquecia das suas dores em prol de qualquer um. Uma pessoa que gostava de sorrir, mesmo diante de todas as dores. Fica difícil, mas a nossa certeza hoje, é a justiça, que ele seja condenado, que não saia do Presídio. A pressão psicológica e a forma que ele a ameaçava é tão cruel quanto agressão física”- concluem.

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Ana Terezinha Dorneles Machado

Quea justiça seja feita e que sirva de lição para muitas mulheres que vivem um horror destes