Lauro, o último alfaiate da cidade está encerrando a carreira aos 82 anos

Das suas mãos ágeis saíram verdadeiras obras de arte. Foram décadas de um trabalho referência na cidade, sempre no mesmo endereço.

Lauro, o último alfaiate da cidade está encerrando a carreira aos 82 anos
Lauro, o último alfaiate da cidade está encerrando a carreira aos 82 anos

Uma parte da casa, foi reservada para o ateliê, que ainda mantém o mesmo estilo, a peça de entrada é pequena, mas grande o suficiente para abrigar todas as histórias do último alfaiate de Alegrete, Lauro Lopes de Freitas que completou, 82 anos.

Ele recebeu a reportagem no local que diz ser sua maior paixão, a profissão de alfaiate. Muito orgulhoso, antes de iniciar a entrevista fala que precisa usar aparelho, pois tem uma certa dificuldade para ouvir.

Na sequência, destaca que começou cedo, incentivado por familiares, com apenas 12 anos. Com alguns anos de aprendizado, já estava com o giz, a tesoura e as máquinas em seu ateliê.

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“São 70 anos fazendo o que mais gosto e sempre tive paixão em fazer. Quando comecei, Alegrete tinha 10 profissionais, hoje, posso dizer que sou o último e, apenas vou parar devido ao meu problema de visão – tenho glaucoma – mesmo assim, vou continuar aqui, auxiliando as duas costureiras que estão comigo e ainda vão concluir algumas encomendas” – pontuou.

O antigo alfaiate conta que nos primórdios da carreira chegou a trabalhar com ferro que pesava muito. Além de passar a roupa era o mesmo que fazer uma musculação”, salienta.

A alfaiataria é uma profissão antiga e destinada àqueles que não abrem mão de uma peça elegante e personalizada. Ela encanta aos olhos de um público fiel que resiste à sedução de comprar uma roupa já pronta. “O termo “alfaiate” surgiu em meados do século XII e deriva da palavra al-kaiat (em árabe), do verbo khata, que significa costurar, coser”.

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O ateliê do otagenário foi aberto em 1973 e ainda permanece na Avenida Assis Brasil. Dos fiéis clientes, Lauro disse que a maioria já faleceu, mas acrescenta que muitos estiveram na Alfaiataria Freitas por muitas décadas. Ele conta que fez muitos ternos de casamentos, também realizava todas as demais confecções, como calças, camisas, blazers, sobretudos e conjuntos femininos.

No decorrer da conversa, lembra do funcionário, Orfílio César que fazia a costura e acabamento de um casaco como ninguém, sempre foi uma grande referência na cidade, assim como, Maria Toledo que era uma exímia costureira e responsável pelas calças. Além deles, muitos outros funcionários passaram pela alfaiataria Freitas.

Destes, Lauro recorda de uma encomenda grande de um CTG para uma apresentação e um dos funcionários adoeceu, foi um grande desafio, mas no final, deu tudo certo.”O giz desliza pelo tecido deixando uma marca que orienta a tesoura. Assim começa uma peça de roupa.”- cita.

De acordo com o alfaiate, quem utiliza roupas sob medida, sendo homens, em sua maioria, busca qualidade e exclusividade. “A roupa sob medida é feita especialmente para o cliente. Então é diferenciada”, pontua.

E, se para os cliente receber uma peça mais requintada é satisfatório, para ele, criá-la é um prazer. “Pegar o tecido e, depois, ver a roupa pronta é muito importante. É uma satisfação – fala com sorriso e brilho nos olhos.

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Porém, conforme diz ele, hoje é bem diferente. Para Lauro, a falta de interesse das novas gerações pelo ofício é outro fator que oferece riscos a sua continuidade e destaca outras profissões que também estão quase extintas como sapateiro.

“A alfaiataria é uma profissão muito detalhista, demora muito tempo para aprendê-la e (por isso) ninguém mais quer”, acredita. Mesmo assim, diz que as novas gerações deveriam dar continuidade a esses trabalhos que são contrários a evolução dos tempos onde máquinas realizam o processo de confecção e as roupas são todas iguais, porém, cada pessoa tem o seu perfil e ninguém é igual a ninguém. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença.


Nas mãos do alfaiate, giz, esquadro, régua com curva de gancho e uma tesoura grande são articulados numa dança sincronizada, que termina em cortes milimetricamente precisos. Essa sempre será a grande diferença e a beleza de uma roupa produzida sob medida.

A alfaiataria é uma profissão em extinção no Brasil, mas na Europa segue em alta, em países como Itália, França e Alemanha. O seu início foi por volta do século XVII na Europa, e posteriormente, foi se espalhando pelo mundo.

Essa é uma arte realizada pelos profissionais que criam roupas de forma personalizada, exclusiva e artesanal. Sendo assim, o alfaiate pode ser considerado como um artesão, um artista que cria e faz arte.

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Rita, Lauro e Rogério

Tio Lauro é e sempre será maravilhoso, tanto como alfaiate, como ser humano, de uma generosidade sem fim. Nossos sinceros parabéns por toda a sua trajetória de profissão e principalmente de vida. Seus sobrinhos Rogério, Rita e LAURINHO, que leva o mesmo nome em sua homenagem. Te amamos muito.

Vladecir Reck

Acredito eu que o Sr Lauro não seja o “último” alfaiate em atividade na cidade a deixar a profissão, não podemos esquecer do seu “Calcinha”, alfaiate a mais de meio século na função ainda em atividade e por sinal, um ótimo e competente obreiro em favor da moda do vestuário. Quem o conhece deve saber um pouco deste pequeno grande homem, que labora desde os idos tempos do Mota Magazine. Só um lembrete pra reavivar nossas memórias !

Luís Fernando

Lembro do seu Lauro, com ele não tinha muita intimidade meu amigo era o Júlio seu irmao que tinha tornearia nos fundo da propiedade dos Freitas, eram pessoas integras, honestas e tranquilas. O Julio tinha uma calma como poucos.