Na terra da valsa, alegretense desbrava o mundo e dá aulas de Português para minorias, na Áustria

Aos 19 anos, a alegretense, Juliane de Oliveira Rüdisser saiu de Alegrete, pela primeira vez, para uma experiência na África do Sul. -Diz que sempre gostou de conhecer lugares e tem esse espírito de aventura de desbravar o mundo. Depois de dois anos de intercâmbio voltou ao Brasil.

Com gosto pelas linguagens, cursou Letras e ficou ainda mais motivada a conhecer outros lugares no mundo. Decidiu ir para Inglaterra fazer uma especialização em sua área na Universidade de Cambridge. Neste tempo conheceu o seu futuro marido e, após um tempo, ele recebeu a proposta para vir trabalhar no Brasil, no Piauí. Ela terminou os seus estudos em Londres e o acompanhou.

Mas sua trajetória de mundo não parou aí. Juliane se casou no Brasil e voltou com o marido, o cientista Hannes Rudisser para Áustria, onde já conhecia em visitas de turismo à família do esposo. Só que como já havia morado em três países diferentes achou que teria uma adaptação fácil, mas isso não aconteceu, porque se deparou com uma cultura bastante fechada, não amorosa em relação ao imigrante.

Se dedicou aprender o alemão parar entrar na cultura local e depois de 9 meses fez a prova e obteve uma boa nota. Mesmo assim, sentiu que deveria se esforçar ainda mais para se inserir na comunidade. Ela foi perceber que o austríaco demora a aceitar os de fora, mas depois vendo como era o povo e seus costumes Juliane começou, aos poucos, a conquistar os nativos.

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A doutoranda em educação e didática pela Universidade de Innsbruck , professora de multilinguismo é fundadora do Mala de Herança em Tirol.

E mesmo com toda a sua formação não via possibilidade de trabalho. E foram inúmeros contatos e muito diálogo com a comunidade e autoridades locais-um verdadeiro ativismo linguístico-  a alegretense conseguiu abrir a primeira turma de Português como língua de herança local.  Ela só teve contatos com brasileiro depois de cinco anos em que estava em Innsbruck.

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A vocação e o intercâmbio com a comunidade local

Dentro da Universidade, no Mestrado de línguas estrangeiras, diz que o que norteou seu trabalho foram os direitos de minorais, políticas de linguagens, xenofobia, racismo. E, também descobriu que o país tinha uma lei desde 1970  de uma política linguística que garantia ensino de línguas de herança para minoria locais.

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Ela decidiu pesquisar as famílias brasileiras que viviam lá e criou um projeto de integração entre elas. ” A maioria de brasileiros aqui são mulheres, observa.

E os desafios foram constantes, porque percebeu que os brasileiros na Áustria não falavam Português com seus filhos e havia, inclusive, um certa discriminação, dentro do próprio ambiente familiar, pondera. – Foi muito trabalho de base e hoje contamos com a presença de autores, músicos do Brasil, que se interessam pelo projeto, e vem oferecer cultura às famílias brasileiras em Innsbruck.

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A alegretense conseguiu em 2017, a façanha de incluir a Língua Portuguesa na grade curricular nas línguas de herança em escolas públicas, dentro do Projeto Mala de Herança em Tirol

Na cidade de Innsbruck, a 476 Km da capital, Viena, a alegrentense de 41 anos diz que se sente como se fosse uma menina entre as crianças. Ela dá aulas e leva a cultura do Brasil a crianças e jovens daquele país da Europa. Criatividade, muitas cores incluindo atividades com temas de festas e costumes do nosso país estão presentes nas aulas da Professora Juliane.

“É  um verdadeiro ativismo linguístico e cultural que ganha espaço e reconhecimento e estou muito feliz em poder  deixar  às crianças bilingues, aqui na Àustria, a herança de nossa língua materna, promovendo a integração entre crianças de pais ou mães brasileiros, que vivem na cidade montanhosa do Alpes, enfatiza a vibrante professora de Língua Portuguesa que eternizou Luis de Camões, Carlos Drumond de Andrade, Ariano Suassuna, dentre tantos outros.”

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Vera Soares Pedroso

Fotos: Arquivo pessoal