O artesão que perdeu a visão “vê” pelas janelas da alma

A arte que vai além do que é possível ver. Antônio Airton Cardoso, de 55 anos, é um artista nato. Sempre ligado à arte, ele se auto desafiou e, mesmo depois de perder a visão em razão de um problema de saúde(toxoplasmose), continuou realizando vários trabalhos artesanais.

A reportagem do PAT conversou com o artista, em sua residência no bairro Piola. Com uma energia muito positiva, o alegretense que já foi escultor e um dos principais figurinistas dos blocos carnavalescos nos anos 80 e 90, Tom Mix, como é conhecido, falou sobre sua trajetória e deixou uma grande lição de vida, superação e vitória.

 

Deficiente visual há 10 anos, Tom Mix, disse que perdeu a visão em um mês desde o diagnóstico. “Na primeira semana foi difícil, mas eu coloquei na minha cabeça que não poderia ser egoísta com as pessoas que eu amo. Não poderia me vitimizar e fazer a minha mãe que residia comigo à época, sofrer por me ver depressivo. Então levantei a cabeça e passei a desenvolver o que mais amo, o artesanato. Eu estou sempre de bom humor, pois sou cercado de pessoas do bem. Que eu gosto e gostam de mim. Um exemplo é minha irmã Hilda Franco que mudou-se de Uruguaiana para cá e cuidou da nossa mãe até falecer e até hoje está comigo”- completou.

Durante a entrevista, algumas situações que ele considera engraçadas como quando alguém o vê à noite trabalhando e a luz está desligada e acende pois ele, em tese, estaria no escuro. “Quando as pessoas dizem que vão acender a luz eu fico em silêncio, pois não vai fazer diferença” – destaca com bom humor.

Totalmente independente, Tom Mix, pondera que só passa fome quem não lembra nem ao menos de plantar uma somente pois logo terá uma fruta ou legumes. O artista cita que enxergar e ver faz uma grande diferença. “As pessoas tem que procurar enxergar melhor os seres humanos. Elas se deixam ir conforme o vento e depois passam a se vitimizar. Eu não enxergo, mas procuro ser melhor em tudo, pois a morte é apenas um ciclo, tenho a percepção que as pessoas estão desmotivadas. Sou muito otimista, sabe aquele ditado do copo meio cheio e meio vazio? Eu sempre vou pensar que está mais cheio”- falou.

Tom Mix lembrou que iniciou a trabalhar aos 13 anos, no Aeroclube, isso na década de 70. E durante o período que estava com visão, um dos grandes destaques em sua vida foi a leitura. O artista acrescenta que não dormia sem ler algo, nem que fosse uma bula de remédio. E, atualmente, ele se mantém sempre muito bem informado, não deixa de ouvir os principais jornais, documentários e é imprescindível o Alegrete Tudo. A irmã, Hilda, é responsável por ler as matérias algo que Tom diz não abrir mão de ouvir pois é fã do PAT.

Durante este período, vários trabalhos do artista foram vendidos, o que ele destaca que são valores simbólicos, pois tem o custo com material, mesmo com uma grande quantidade de doações, reciclar é um dos seus objetivos principais, tudo o que recebe se transforma em arte, desde sementes, conchas, madeiras e tantos outros objetos. Os quadros, caixas e várias outras opções, são de uma delicadeza e beleza inigualáveis. O próprio artista argumenta que sempre pensou em desenvolver seus trabalhos de forma muito original, sem “copiar” ninguém e, isso é uma realidade que vive atualmente pois brinca que nem mesmo um mesmo quadro consegue fazer como o outro pois se vale da inspiração do momento, com o toque, vai criando todos os detalhes, mas o resultado final fica na imaginação. Dentre os quadros, muitos já foram adquiridos por amigos e vistantes, desta forma, alguns já foram levados para Japão, Alemanha, França, Moçambique e Paraguai. Tom Mix, enfatiza a importância de algumas pessoas em sua vida e cita a professora Elíria Mallmann que sempre foi e é uma grande amiga, além de ter adquirido para o Centro Espírita Eulália Nogueira, vários quadros. A irmã também comenta o quanto ele tem perseverança pois muitas vezes fica horas lixando uma madeira até que fique como ele quer, pois tudo é muito artesanal. O artista participou desde o primeiro Brick na Praça e torce para que logo tudo volte ao normal para expôr seu trabalho. Ele também recebeu Mérito Legislativo no ano de 2018, proposição do ex-vereador Celeni Viana pelos relevantes trabalhos realizados. Além de todo talento e sensibilidade para a arte, o alegretense também gosta de escrever cartas em datas especiais. Hilda mostra várias exemplares que ele escreveu em datas comemorativas como Páscoa, Natal, Aniversários entre outras. Um detalhe importante é que Tom escreve para alguém específico, sempre é direcionado a uma pessoa. A irmã é responsável por passar a mensagem para uma outra folha pois em muitas as letras se sobrepõem.

E para finalizar, uma das mensagens mais lindas que alguém poderia deixar. Ao ser questionado se teria alguma passagem de sua história que o marcou mais, sem titubear, Tom Mix declara: tudo é belo e maravilhoso e me marcou, ainda é assim.Minha vida foi e é tão linda. Tenho certeza que desde que nasci eu sou feliz, pois mesmo em dificuldades e adversidades devemos tirar ensinamentos e o ponto positivo, tudo é uma lição e o ruim precisamos transformar em algo bom. Eu só não gosto de pessoas de baixo astral”- completou.

 

Quem quiser conhecer de perto todas as belezas que o artista transforma em lindos quadros e outras opções de presente pode ir no bairro Piola, rua Princesa Isabel,20 ou 99944-6725. Ele também aceita encomendas específicas e comenta de um quadro que fez para uma casa de religião onde foram solicitadas alguns detalhes e o resultado final foi lindo, disse a irmã.

Flaviane Antolini Favero