Protesto, memória e samba marcam as seis décadas do Golpe de 64 na União Operária

O objetivo era reunir num mesmo local e fazer uma análise e pesquisa históricas, memórias políticas e afetivas e sambas de resistência. Assim, na noite da última sexta-feira (22), aconteceu um ato, convocado por entidades como o Núcleo de Cultura da União Operária 1º de Maio, UABA – União das Associações de Bairro de Alegrete e IHGA – Instituto Histórico e Geográfico de Alegrete, para registrar a passagem dos 60 anos do Golpe Civil-Militar ocorrido em março de 1964. As atividades foram desenvolvidas em frente à União Operária 1ª de Maio.

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O ato denominado “Sem memória não há futuro e sambas da resistência”, logo no início, contou com o professor Diego Braga, que fez uma introdução histórica, seguida de uma fase com depoimentos prestados por pessoas que foram direta ou familiarmente atingidas pelo Golpe Civil-Militar e uma parte artístico-cultural, com a participação de músicos, intérpretes e baterias das Escolas de Samba de Alegrete, destacadamente, Rosas de Ouro, Nós, os Ritmistas, Pôr do Sol e MICA.

O professor e Mestre em História Diego Braga fez uma exposição panorâmica e sumária do contexto do Golpe no país, e focalizou, mais detalhadamente, aspectos e impactos locais do regime, principalmente em relação aos agentes e militantes que atuavam, institucionalmente, em cargos no Executivo e Legislativo.

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Os depoimentos foram feitos pelas seguintes pessoas: Adão Conceição Dorneles Faraco, Adauto Gonçalves de Oliveira, Leonel Mombach (filho do líder operário, comunitário e militante do antigo PCB, Timóteo Bombach), Marli Leivas, Edegar de Oliveira Lopes, Osmar Souza, José Airam Vasconcelos, Jorge Augusto Peres Moojen.

Com variados enfoques, os depoimentos convergiram para identificar, na memória, nos afetos e na consciência política dos e das presentes, não só as agressões e violências praticadas pelo regime instalado no país, como também para demonstrar a altivez e o compromisso democráticos de todos estes reais e sinceros patriotas. Não sem sobradas razões, provocaram sentimento de solidariedade e emoção entre todos e todas que participaram do ato.

Ainda fez uso da palavra o professor e dirigente municipal do PCB – Partido Comunista Brasileiro, José Ernesto Alves Grisa, um dos partidos mais atingidos com a morte ou desaparecimento de muitos dos seus dirigentes e militantes durante o Golpe de 64.

A parte artística, intitulada Sambas da Resistência, teve como primeiro convidado para fazer sua apresentação, o já mítico Roberto Joel. Roberto cantou três sambas, com destaque para “A voz do Morro”, e “O que é? O que é?”, introduzindo um clima de carnaval para o público, que prestigiou o evento em bom número.

A harmonia dos Ritmistas, liderada por Rafael Faraco, Daniel Rodrigues e Gustavo Pereira deu o seu recado, somando-se ao ato que também soube promover a alegria incontida das manifestações culturais populares. Entre os sambas apresentados, o da Escola Paraíso do Tuiuti (RJ), de 2018, Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão? e o da própria Nós, os Ritmistas, campeã do último carnaval de Alegrete, realizado em 2023.

A Furacão Verde e Rosa, da Escola de Samba Rosas de Ouro, a mais jovem das nossas Escolas de Samba, acompanhada de sua corte, e sob o comando do Mestre Sandro Paixão, deu sua largada com vários números e uma bela exibição dos seus não menos jovens ritmistas, enquanto o intérprete Peterson Carvalho apresentava outros sambas, começando com Quizomba, a festa das raças, samba-enredo da Vila Isabel, de 1988.

A Pôr do Sol, marcada pela profunda identidade com o Bairro Macedo e que tem, entre outros grandes destaques, o Mestre Érico Santos, o compositor Zolá Duarte, o pesquisador Márcio Duarte, o Presidente Romeiro e todo o time de ritmistas de sua Bateria, trouxe os seguintes sambas: 100 anos de liberdade (Mangueira), Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!(Imperatriz Leopoldinense) e os da própria lavra da Escola: O filho da Pátria(2012), O sol dos afogados(1995), Um banho de alegria(2000) e A felicidade não tem preço(2023).

A MICA e a sua Bateria Explosão Azul, sob a batuta dos Mestres Dieguinho e Tica-Tica e seu harmonioso conjunto de ritmistas, encerrou a noite, apresentando o Samba-enredo da própria Escola, Lá do alto vem a fé que me guia – Minha Mocidade é o samba, minha oração de cada dia, na voz do Olivério Coelho. Na apresentação da MICA, chamou a atenção do público a participação do pequeno Fernando, o precoce e encantador integrante da Bateria da Escola da Cidade Alta.

No momento carnaval do ato, passistas, ritmistas, mais a presença dos Reis Momos adulto e mirim, respectivamente, Marquinhos dos Santos e Gabriel Dorneles, além das empolgantes participações das madrinhas das Baterias da Rosas de Ouro, Val Bica (adulta), Laura (infantil), e da MICA, Tatiele Machado e da Musa, Julia Mendonça, completaram o espetáculo.

Vinícius Adolfo Correa Marçal, conhecido e reconhecido no mundo do samba como Sininho, em grande estilo, fez do seu Cavaquinho o perfeito e ajustado acompanhamento de todos os sambas apresentados pelos diferentes intérpretes que fizeram dessa uma noite memorável.

Para o êxito do evento, foi decisiva a participação do professor Roberlaine Ribeiro Jorge. Fez dupla com Preta Mulazzani na apresentação do ato, e que teve, ainda, na organização, Gilmar de Lima Martins, Luiz Felipe Schervenski, Jefferson Leite e Airton Alende.

Na União, presença dos dirigentes das Escolas de Samba de Alegrete, maciça participação do público, lideranças e personalidades, que enfrentaram o frio e se fizeram presentes numa celebração da democracia e da resistência política e cultural em favor de um Brasil mais justo, solidário e igualitário.

*Colaborou Gilmar de Lima Martins

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