Representantes de três religiões falam sobre o significado da Páscoa

O Brasil possui um Estado caracterizado como laico. Conforme o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, tal vocábulo indica que um sistema, país, estado ou nação não admite a influência religiosa, de dogmas, doutrinas ou regras no modo de governar.

Por essa razão, é tão importante que não ocorra intolerância religiosa, pois a fé ou crenças de cada indivíduo são únicas e devem ser respeitadas. Em meio de tantas religiões, temos datas comuns para a maioria, como o Natal, Finados, Páscoa… É nesse sentido, que por curiosidade e/ou estímulo ao respeito a toda e qualquer fé, que conhecer as manifestações religiosas é necessário. Por esse motivo, o PAT conversou com representantes de algumas religiões para compreender como a Páscoa é percebida, bem como seus símbolos.

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Valdoir Dutra Lira, representante da Igreja Adventista do Sétimo Dia, define que a Páscoa significa passagem, é uma festa instituída por Deus e um memorial para que os filhos de Israel jamais esqueçam que foram escravos no Egito por 430 anos, quando Deus os libertou. A última praga, nos capítulos bíblicos 11 e 12 de Êxodo, também está ligada à Páscoa, por isso os adventistas reservam muito tempo para rememorar a vida de Jesus, suas lições da passagem exemplar pela Terra, como a injustiçada sentença que levou, tudo para dar força à humanidade. Consequentemente, é um momento de celebração, agradecimento e profunda reflexão sobre o sacrifício de Cristo para salvar a todos. Sendo assim, o comportamento consumista não está de acordo com o objetivo da data. Ainda segundo Valdoir, comer chocolate nesse dia não representa biblicamente o verdadeiro sentido da Páscoa, mas é prazeroso estar com os entes queridos na data.

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O Baba Olorixá Cristian de Yemojá, da roça Yle Ase Wure Alagbede, representante da religião de matriz africana rio-grandense chamada batuque – nação cabinda -, expõe que a Páscoa do batuque não tem relação com os significados e símbolos cristãos. Porém, no contexto histórico da quaresma sim, o sábado de aleluia tem ritos do olorogum, retorno da guerra para as orixás, (expressão filosófica de retorno às origens energéticas), que são recebidas no sábado pela manhã, às 10h. O ano religioso do batuque começa a partir dessa data, tudo isso tem relação com a época da escravidão: os escravizados não podiam fazer seus ritos, somente aqueles relacionados com a igreja católica, mas no sábado de aleluia os senhores de engenho faziam as próprias festividades e os escravizados tinham liberdade para fazer seus cultos ancestrais. Tudo isso foi passado oralmente de pais para filhos e se faz presente até hoje nos lares e nas roças.

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A trabalhadora da casa espírita Eulália Nogueira, Zeli Aguilar Alende, contou ao PAT sobre as representações da Páscoa na doutrina espírita. Para os espíritas, a data representa renovação, porque é um momento de reflexão interior de atenção a Deus e aos valores espirituais, com o objetivo de melhorar, ter mais amor e caridade. Outra palavra importante é libertação, pois, pela tradição judaica, a Páscoa relembra a saída dos hebreus do Egito depois de 400 anos de escravidão, em hebraico a palavra Páscoa significa passagem da escravidão para a liberdade. Nisso, a figura de Jesus Cristo demonstra que a morte também é libertação, uma passagem da morte para a vida. Como acreditam em reencarnação, creem que a morte ocorre somente para o corpo, perecível, o espírito se liberta do corpo físico, em que poderá reencarnar em outro corpo, especialmente preparado para ele, justificando as palavras de Jesus “Ninguém poderá ver o reino de Deus se não renascer”. A entrevistada finaliza explicando que a doutrina espírita não possui símbolos, nem ritos, nem dogmas, “o que celebramos na Páscoa pode ser sentido todos os dias da nossa existência. Não temos uma data específica para lembrarmos o sacrifício de Jesus”.
As religiões têm maneiras e formas diferentes de expressar sua fé, por isso, é necessário entender os diferentes pontos de vista para perceber a cultura e diversidade que estão a nossa volta todos os dias, nos mais diversos ambientes. Afinal, conhecimento é sempre uma arma contra o preconceito e a intolerância, os entrevistados representam somente um pouco das tantas manifestações religiosas que existem em nosso país. Sendo assim, como todas as outras, merecem ser respeitadas, afinal, como diz a sabedoria popular, a fé tem muitos caminhos.

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