Seu Adão Batista, o professor pardal dos pampas

O personagem da Disney Professor Pardal empresta seu nome como apelido para pessoas inteligentes. Em Alegrete, o aposentado Adão Batista Cezar, é daquelas pessoas que carinhosamente podem ser chamadas de professor Pardal.

Aos 67 anos, ela dá vida a antiguidades, ou seja rádios, eletrolas, som 3 a 1, tocadores de fita cassete. Ele arruma de tudo. Natural de Dilermando de Aguiar veio no ano de 1978 para Alegrete. A história de vida remete ao sonho de adquirir um rádio. Na pacata cidade onde nasceu na época o rádio era o status do momento. Filho de uma família pobre, Adão desde guri criou uma paixão pelo rádio. “Meu pai não tinha dinheiro para comprar um rádio. Se comprasse faltava comida na mesa”, recorda.

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Ele chegava a pousar da casa de uma tia para poder escutar rádio. Na época em Dilermando de Aguiar ouvia música, notícia e servia de relógio. Resume que o rádio foi um companheiro. Ele começou a trabalhar aos 12 anos. – hoje é crime – interrompe Seu Adão. Mas foi foi graças ao trabalho que conseguiu adquirir seu primeiro rádio. Diz que pagou com um salário mínimo em duas vezes.

Já adolescente em 1973, despertou ainda mais o gosto pelo rádio. Queria entender da manutenção, como funcionava o aparelho. Ia numa oficina e ficava olhando o conserto dos rádios. Buscou um curso a distância. Da arrumação caseira foi se interessando cada vez mais.

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Arrumou emprego em uma empresa terceirizada da antiga CEEE, foram 40 anos de serviço. Entrou para companhia e num belo dia arrumou um motorádio do carro de um chefe. O trabalho foi elogiado, ele havia deixado o rádio funcionando perfeitamente.

Tempo depois do trabalho em torres de energia, foi chamado no setor de comunicações da CEEE, local que trabalhavam só engenheiros. Em 1987, começou a integrar o setor de comunicação (rádio), na CEEE em Alegrete. Foram 12 anos de serviços no que ele mais gostava.

Aprendeu mais ainda com cursos na capital com engenheiros que ministravam aulas nas universidades de Porto Alegre. Manutenção preventiva, consertos era com ele.

Mas foi então que aquele hobby acalentado durante anos veio à tona. A paixão por rádio se concretizou e Seu Adão lotou a garagem com raridades. A aposentadoria em 2014 contribuiu, e durante a pandemia ele colocou em prática o sonho. Depois de viajar duas vezes a Israel e conhecer uma dezena de estados brasileiros.

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Em sua garagem ostenta relíquias dos anos de 1945, 1950 e eletrônicos que hoje não fabricam mais. Todos funcionam perfeitamente. Ele dá vida em todas peças. Possui televisões de tubo dos anos 70 funcionando.

Seu Adão conserta todos aparelhos e se dá o luxo de aos finais de semana ouvir músicas por 4 horas e rolos de fita cassete. Tem modelo de filmadoras. As primeiras que faziam só vídeo.

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Com uma bancada no seu ateliê, é no local que ele revive os momentos. “Cada um aparelho aqui tem uma história”, conta ao mostrar um rádio Philco modelo Transglore, do ano 78, com um som estéreo excelente.

O mais impressionante é que até uma eletrola antiga ele deu vida e ainda arrumou a parte externa. É ali que escuta antigos LPs e fitas cassetes.

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Seu Adão é um dos sócios proprietários da rádio Sentinela FM comunitária, onde integra a emissora desde 2001. É lá que aquele menino de Dilermando de Aguiar que tanto sonhou em ter um rádio, faz a manutenção de todos aparelhos da emissora. Conserta, faz manutenção preventiva em meio a seus consertos em suas relíquias. Seu Adão no dia da entrevista havia recebido mais 10 relíquias de um amigo. – Vou dar vida á todas elas – garantiu um exímio professor Pardal.

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