Técnica de enfermagem alegretetense recebe Menção Honrosa pelo trabalho na linha de frente da Covid

Técnica em enfermagem recebeu Menção Honrosa pelos relevantes serviços prestados aos pacientes neste período de pandemia da Covid-19. Amanda Vilaverde Prates, hoje está com 26 anos e atua em duas frentes, está há seis meses no hospital São Vicente de Paulo, na UTI Covid, onde os profissionais e os colaboradores receberam a homenagem, em Osório. Assim como há quatro anos trabalha na emergência do hospital Santa Luzia em Capão da Canoa.

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A reportagem do PAT conversou com a alegretense que saiu da cidade natal aos 11 anos, mas sempre carrega o Alegrete no coração. Amanda disse que  receber o reconhecimento é muito gratificante .É a certeza de estar no caminho certo, de estar fazendo o bem e, acima de tudo, poder contribuir de alguma forma para que as famílias voltem a ter esperanças de ver seus familiares com saúde e de volta ao convívio familiar.

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Como forma de deixar uma mensagem para todos os que acompanham o trabalho e até mesmo para àqueles que ainda não estão conscientes do perigo do vírus, ela deixou a seguinte mensagem:

Não reclame… Seja grato por tudo que você tem, pelo pão de cada dia, pela oportunidade de recomeçar a cada amanhecer, pelo ar que respira, pelo fôlego de vida, pelo amor de Deus por você. Acredite por pior que possa parecer a situação, sempre haverá alguém passando por algo mais difícil do que você, então agradeça mais e reclame menos.

Na sequência, Amanda fala sobre o início da carreira e pontua: há  sete anos quando decidi fazer a inscrição no curso técnico não tinha noção do mundo em que eu estava me metendo, não tinha noção do que viria pela frente, do que eu iria enfrentar, foram dois anos intensos de estudo, trabalhos, provas, curiosidades, casos estudados e muito mais. Ao final desses dois anos de curso, eu ainda não tinha muita noção do que eu iria encontrar como técnica de enfermagem, não imaginava que cinco anos depois estaria vivendo e atuando na linha de frente de uma pandemia. Em março de 2020 eu entraria em férias e iria viajar, os planos foram atrapalhados devido ao novo coronavírus, eu não poderia “abandonar o barco”. Em maio desse mesmo ano, surgiu a oportunidade de trabalhar em uma UTI Covid e foi a realização de um sonho que nem eu sabia que tinha, trabalhar numa Unidade de Terapia Intensiva. A euforia tomou conta, queria que o dia de começar chegasse logo e, aos poucos, essa euforia foi dando lugar ao medo, medo por não saber lidar com tantas medicações diferentes do que estava acostumada, medo de não dar conta da rotina de uma UTI, e o maior deles, medo de lidar com um paciente Covid positivo.

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O dia que cheguei pra trabalhar e me deparei com o primeiro paciente fiquei em choque, só sabia olhar pra ele e pensar “isso é real, esse vírus existe mesmo”, os dias foram passando e com eles algumas dúvidas foram sumindo e outras milhares surgindo, pacientes entubados, aparentemente estáveis, mas que num piscar de olhos o quadro clínico já mudava, ouvir as palavras “pausar a sedação” “extubar” “pronar” era motivo de pânico, pois não sabíamos o que aconteceria dali pra frente, não tínhamos a experiência de lidar com o paciente Covid positivo, mas a gente se olhava, um acreditava no olhar do outro, íamos juntos, e assim seguimos.

No meio disso tudo teve o medo do contágio, da transmissão pra nossa família e o medo de perder colegas, tivemos que abraçar muito mais do que conseguíamos quando o colega foi afastado, e não foi só abraçar o plantão caótico, foi abraçar uns aos outros, a família dos colegas, para assim mantermos o psicológico em dia, ou tentarmos. As diversas chamadas de vídeo, a preocupação com os pacientes pra saber como estavam enquanto um de nós estava  afastado e assim fomos seguindo. Cada paciente que ia a óbito era uma pedaço da gente que ia junto e a dúvida de saber ou não se estávamos fazendo o certo, aumentava, porém a cada alta dada, a cada mínimo gesto de melhora, aquela parte nossa antes perdida pelo óbito, se reconstruía e a certeza de estar fazendo o certo nos transbordava.

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Então, hoje, eu ainda tenho medo disso tudo que estamos vivendo, mas tenho muita gratidão a Deus, gratidão pelas pessoas que acreditaram no meu trabalho e pelas pessoas que abraçaram isso junto comigo. Aos amigos de fora do ambiente hospitalar, desculpem a ausência, mas eu precisei/ preciso estar lá dentro para ajudar os que em mim acreditam e confiam suas vidas.

Ao hospital São Vicente e aos gestores da UTI COVID, agradeço imensamente a homenagem, o reconhecimento, o carinho e o cuidado que vocês tem por cada um de nós. Sou muito grata por tudo que tenho e sou hoje, muito obrigada! – conclui.

Flaviane Antolini Favero