Fronteira Oeste e mais duas regiões do Estado ficaram com indicadores muito próximos da Bandeira Preta

A expectativa positiva em relação a Black Friday se confirmou e muitos comerciantes, de Alegrete, disseram à reportagem que conseguiram cumprir ou passar as metas. Mas, por outro lado, a sexta-feira(27), terminou de forma muito tensa no que se refere à pandemia do novo coronavírus. A relação com a promoção foi em razão da esperança que alguns estavam quanto à cor da bandeira para os próximos dias. A aposta era de retroceder, voltar à laranja, e o comércio abrir no domingo como estava previsto antes da bandeira vermelha, que passou a vigorar oficialmente desde a última terça-feira.

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Porém, o avanço da pandemia tingiu de vermelho 100% do território gaúcho. Novo mapa de risco divulgado nesta sexta-feira pelo governo do Estado colocou as 21 regiões sob restrição severa à circulação de pessoas. Em Alegrete, durante os últimos cinco dias, de segunda à sexta-feira, a situação já mostrou-se  alarmante com números que devem fazer a população recuar em alguns pontos.

Segundo os Boletins Epidemiológicos, nestes cinco dias foram registrados 225 casos positivos contra 95 pacientes recuperados. O aumento diário foi o maior em uma semana desde o início da pandemia e dois óbitos a mais para o Município em decorrência do vírus.

Em relação aos positivos os dados foram: segunda-feira – 42; terça-feira – 40; quarta-feira – 49; quinta-feira – 42 e na sexta-feira um novo recorde com 52 casos. Já o número de pacientes recuperados ficou desta forma: segunda-feira – 15 ; terça-feira – 39 ; quarta-feira – 20 ; quinta-feira – 11 e na sexta-feira apenas 10.

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Outros dados que são importantes e acompanham esta elevação são os números de pessoas ativas e aguardando resultado. Na  segunda-feira – 472 ativos e 58 aguardando ; terça-feira – 473 ativos e 84 aguardando ; quarta-feira – 501 ativos e 104 aguardando ; quinta-feira – 532 ativos e 100 aguardando, assim como, na sexta-feira havia 573 ativos com 122 pessoas aguardando resultado. É notório o número crescente de pessoas ativas e que estão aguardando, representa que a curto prazo, não deve ocorrer um arrefecimento no número de casos. Neste mesmo período, o número de hospitalizados teve variações, em decorrência, também, de dois óbitos. Ambos os pacientes estavam internados na UTI Covid-19.

Esse crescimento do contágio se refletiu não apenas em Alegrete, como na Região. Conforme avaliação do Governo do Estado, houve uma piora muito significativa em todo o Rio Grande do Sul. Pela primeira vez, ao menos três regiões tiveram média que as aproximou da classificação da bandeira preta: Bagé, Erechim e Uruguaiana.

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Segundo informações do Governo do Estado, o Modelo de Distanciamento Controlado chega a 30ª rodada com pior momento da pandemia no Rio Grande do Sul. Com o número de pacientes internados em leitos clínicos e em UTIs atingindo o pico da série histórica. Esse colapso ocorreu na Santa Casa, o que representou a transferência de quatro pacientes de Alegrete para outros Municípios. Algo que foi e continua de forma massacrante sendo alertado pelos médicos que estão na linha de frente da Covid-19, em especial às profissionais, Dra Simone Estivalet, responsável pela UTI Covid e Dra Marilene Campagnolo, Diretora Técnica do Hospital, ambas integrantes do Comitê de combate à Covid.

A situação piorou significativamente na região no último mês. De 30 de outubro a 26 de novembro, os indicadores apontam elevação de 26% (de 830 para 1.047) no número de hospitalizações confirmadas pela doença e aumento de 30% (de 712 para 928) de internados em UTI por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Além disso, o número de internados em leitos clínicos com coronavírus cresceu 54% (de 768 para 1.183) e o número de óbitos subiu 31%, de 211 para 276.

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Essa evolução não está acontecendo apenas em Alegrete. Por esse motivo, tentar achar um ou outro errado ou apontar uma situação pontual como causa e efeito não é a saída, pois há comprovação que mostra algumas imagens relacionadas ao afrouxamento nos cuidados em razão da temperatura mais elevada. Com isso, o relato e denúncias de festas clandestinas, o período eleitoral e o uso inadequado da máscara aumentaram o risco de infecção. Cobrir completamente a boca e o nariz é essencial para a proteção.

Isso tudo mostra que, a falta de cuidados da comunidade tem reflexo direto para a ascensão dos casos e, consequentemente, para o colapso no sistema de saúde. A pneumologista ,Simone Estivalet, já havia feito um relato impactante da situação. São apenas cinco médicos para às 24h por dia, durante os sete dias da semana.  Ela considerou que a população pode estar cansada, mas os profissionais estão exaustos e, mesmo assim, tratam todos os pacientes com muito carinho, zelo e atenção. A maioria está fazendo hora extra.

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“Infelizmente, não temos como descartar o aumento no número de óbitos, em razão da gravidade dos casos. Os pacientes já estão internando com lesões pulmonares graves” – disse a pneumologista.

Bagé que foi um outro Município apontado como indicado à bandeira preta, está com todos os leitos ocupados e o prefeito realizou uma reunião emergencial para adotar novas medidas quanto aos leitos.

Flaviane Antolini Favero