O que de fato aconteceu nas obras do carnaval; engenheiro contratado revela porque a obra ruiu

Um projeto que teve um grande impacto ao ser apresentado. Tinha tudo para transformar a Avenida Inácio Campos de Meneses e consagrar o Carnaval fora de época em Alegrete.

A iniciativa da Assercal foi abraçada pelas escolas de samba, foi comemorada e, a partir do anúncio das primeiras emendas parlamentares, dos Deputados Afonso Motta e Henrique Fontana, o entusiasmo tomou grandes proporções como os sonhos dos carnavalescos e dos alegretenses. Pensou-se em uma festa que iria deixar o Estado impactado, com a festa levando uma multidão à Avenida e movimento o comércio da cidade com mais de 200 carnavalescos de outras cidades e Estados.

 A Associação das Entidades Recreativas, Culturais e Carnavalescas de Alegrete (Assercal), garantiu mais 700 mil reais por meio da Prefeitura de Alegrete com a viabilidade de deixar uma belíssima estrutura para demais eventos, um grande legado para a cidade. Assim, tudo se encaminhava para o grande dia, ou seja, a estreia no dia 3 de março. Camarotes vendidos, escolas de sambas com inúmeros eventos, quadras de ensaio bombando. Muitas recomeçaram do zero, sem nem ao menos um tambor, e se reergueram.

Muitos questionavam a forma em que a obra dos camarotes vagarosamente “evoluía”, iniciaram os primeiros questionamentos e posteriormente as afirmações de que poderia não ser mais uma possibilidade, na primeira data anunciada, principalmente diante das denúncias do engenheiro civil Vicente Aquino e do repórter Dariano Moraes.

Três dias antes, a Assercal por meio do então presidente Gilson Vaucher convoca uma coletiva de imprensa e rechaça o cancelamento ou adiamento. Até que, 24h antes, veio o anúncio do primeiro adiamento e, na sequência, o licenciamento dele, Gilson, da presidência e uma Comissão foi montada. Novamente a data foi alterada.

Os camarotes, ao longo dos dias, foram apresentando e comprovando cada vez mais patologias e as quedas validaram a problemática apontada. A partir deste ponto, muitos outros questionamentos foram feitos e a pergunta que mais se fez: quem é ou quem são os responsáveis por todas as irregularidades apresentadas?

Entre as entrevistas, muitos questionamentos e solicitações de respostas, surgiu o nome do engenheiro responsável pela obra.

Mas, no dia em que ocorreu o anúncio de que todos os módulos não serão usados, nem mesmo o primeiro em que tinha 39 camarotes e, que recebeu alguns reparos na busca de ser o único aproveitado nas duas noites de Carnaval, sendo assim, toda estrutura será metálica, o engenheiro Civil – Cristian Jung, concedeu uma entrevista exclusiva ao PAT – pela primeira vez – ele falou sobre o assunto e colocou a sua posição.

Ele foi contratado pela Assercal no dia 6 de dezembro, 20 dias após a obra ter iniciado. No dia 23, entregou um ofício se desligando da função.

Em suma: faltou projeto estrutural!

Veja a posição do engenheiro sobre a obra:

“Fui contratado no dia 6 de dezembro para fazer um assessoramento/acompanhamento da execução das obras do projeto arquitetônico, o único entregue pela Assercal. Quando cheguei na obra pela primeira vez, ela já estava em desenvolvimento há mais de 20 dias, com equipe de execução contratada, Fotografei o que encontrei, questionei o então presidente, Gilson Vaucher sobre a concepção, e preparar algumas recomendações quanto à boa prática de execução.

Executo e fiscalizo obras públicas e privadas há muitos anos, com mais de 70 entregues, sem nenhum problema em Alegrete e Região.

Inicialmente, fiquei sabendo do começo das obras dos camarotes pelas mídias, assim que me convidaram a participar fiquei animado, pois seria mais um trabalho com visibilidade e virei entusiasta do projeto.

No primeiro momento, jamais imaginei que a obra em forte andamento não possuía diversos projetos complementares fundamentais , entre eles, o estrutural e a aprovação dos mesmos pela Prefeitura de Alegrete, o que de fato, mais tarde concluí que não havia. Por se tratar de convênio e obra com recurso público, eu tinha o pré-entendimento que estes requisitos mínimos e básicos estivessem sanados.

Logo, de pronto, solicitei o projeto estrutural, para verificar se a execução possuía aderência ao mesmo. Por mais de uma vez fiz isso e cheguei ao ponto de exigir o projeto que nunca foi entregue. A obra tinha apenas um esboço arquitetônico. O que significa que a obra, com recurso público, foi contratada e iniciada sem projeto e sem aprovação do Município.

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A data da minha contratação pode ser comprovada pela minha ART, data de pagamento. Todas as recomendações que prestei foram direcionados ao presidente Gilson Vaucher, coordenador da obra, contratante dos serviços e responsável por todos os pagamentos, foi ele quem me procurou. Cabia a ele, a contratação dos serviços, dos demais técnicos envolvidos, como da área elétrica, arquitetônica e montagem das estruturas móveis, assim como a compra dos materiais.

Como, na data em que fui contratado o trabalho já estava em desenvolvimento, não acompanhei algumas etapas, como fundações, vigas de armação inferiores e demais detalhes abaixo da alvenaria. Nenhum técnico acompanhou estas etapas, apenas o Gilson Vaucher como coordenador.

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Dentre as recomendações que fiz, estava o preenchimento integral dos blocos com argamassa, e a armação deles em aço, para que funcionassem como uma estrutura unificada. Por diversas vezes. escutava reclamações dos pedreiros de que faltavam materiais, reportava ao Gilson e ele falava que era “conversa de pedreiros”.

Também, desde o princípio, fiz solicitações do projeto estrutural. No momento em que não recebi e que entendi que não havia, passei a exigir que contratasse um projeto estrutural de reforço, complementar ao arquitetônico, o que fiz por diversas vezes e por vários meios. Este passo seria fundamental para que tivesse respaldo a execução.

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No mês de janeiro de 2023 a obra praticamente não “andou”, faltava cascalho e outros materiais. Quando fui contratado, informei que uma programação feita há meses iria me afastar da cidade em fevereiro de 2023, uma viagem que estava prevista há dois anos. Deixei claro que seria preciso um técnico para me substituir naquele período.

Sai de Alegrete no dia 3 de fevereiro, período em que a obra estava acelerando. Quando já não estava mais na cidade, dia 6 de fevereiro, a Assercal me questionou, se eu poderia ser contratado para também, realizar o projeto estrutural, algo que vinha permanentemente exigindo. Porém, naquele momento, a Assercal estava sendo cobrada por vários órgãos de fiscalização e não existia. Quem me solicitou, mais uma vez, foi Gilson Vaucher.

Eu disse que poderia desenvolver a partir daquele momento, com auxílio de outros profissionais e ficou a promessa de formalizarem a minha contratação, o que não ocorreu até o dia de hoje.

Durante a minha viagem, a assercal contratou outro engenheiro civil para acompanhar a obra e ele trocou diversas mensagens comigo. Eu solicitei a um colega, outro engenheiro que, também, realizasse um assessoramento, nas obras do camarotes – enquanto estava em férias.

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Quando as paredes começaram a subir, se elevar, durante o meu afastamento, o meu colega, solicitou ao Gilson Vaucher, na obra, que fosse executado um aterramento emergencial no entorno das paredes, externamente a elas, para que o aterro pudesse segurar as mesmas, pois estas não possuíam estrutura. E, sugeriu que este aterro fosse definitivo, pois a obra não tinha projeto estrutural. Dei meu aval e reforcei a recomendação.

Quando retornei, dia 22 de fevereiro, fui até o local acompanhado do meu colega, onde reforçamos e solicitamos ao Gilson que as paredes fossem escoradas com aterro pelo lado externo, sob o risco de colapso, ele riu e nos chamou de loucos.

Ainda, no dia 22, solicitamos a ele que cancelasse o Carnaval, pois faltavam muitas etapas e, principalmente, estrutura, além disso, qualquer concreto que executasse a partir daquele momento, não curaria até a data prevista – dia 3 de março. Neste dia, nenhum piso havia sido concretado e recomendamos que não concretasse sem o reforço estrutural ou escora de terra externa às alvenarias, pois aumentaria a pressão sobre as paredes.

Nossas recomendações não foram ouvidas, foram totalmente ignoradas e, nos dias 28 de fevereiro e 1º de março, os pisos foram concretados, apenas dois dias antes do Carnaval e sem as proteções recomendadas.

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Na sequência o engenheiro também respondeu alguns questionamentos, registre-se que essas indagações foram feitas antes do anúncio de que as estruturas não seriam mais usadas.

Em que momento a obra começou a apresentar problemas, onde foi o erro?

A obra começou a ter problemas a partir do momento em que não foram cumpridas as recomendações técnicas dadas, principalmente quanto a necessidade de contratação /execução de projeto estrutural ou execução de aterros externos que pudessem conter a movimentação das paredes.

O erro de fato está no fato de que as partes executadas não possuem estruturas, apenas linhas arquitetônicas. A viga, pilares, lajes e estruturas que permitiriam solidarização entre os materiais não foram projetadas e nem executadas, pela necessidade e pressa da Assercal.

Onde foi a falha? Na execução ou na fiscalização?

A falha está na não contratação de projetos complementares, tais como estruturas e de fundações. A obra tem que ser executada em cima de um projeto estrutural, o qual até o presente não existe. A obra foi iniciada e os materiais foram comprados, sem projeto aprovado, antes da minha contratação.

O módulo que estavam tentando recuperar, há muitas rachaduras e patologias. É seguro?

O tal módulo, que está sendo terminado, está exatamente nas mesmas condições dos demais. Não possui projeto de fundações, nem estrutural. Recomendei fortemente ao Gilson Vaucher, e agora recentemente, a atual Comissão que está à frente, que a obra fosse paralisada enquanto os projetos de reforço fossem executados, o que não ocorreu. O que fiz, inclusive por escrito.

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Os “reforços” que estão sendo feitos, não estão sendo acompanhados por mim e não contam com meu respaldo, o que fiz questão de registrar inclusive por escrito. São reforços empíricos, sem projeto, em pontos empíricos, que , ao meu ver não resolverão o problema e dificilmente estarão em sintonia com o futuro projeto estrutural de reforço.

Não me responsabilizo, não assino e não recomendo o uso daquela estrutura , neste momento, sem as devidas recomendações detalhadas anteriormente.

Cabe a quem a responsabilidade da execução? Você vai assinar a nova etapa?

A responsabilidade da execução cabe a Assercal. Pois ela compra materiais, contrata serviços, maneja os convênios, recebe as recomendações técnicas, minhas, e de outros técnicos e teria a obrigação de segui-las, o que de fato praticamente nunca acontecia. De forma amadora e até inconsequente, o Gilson Vaucher insistia em executar a obra sem estrutura. Ele iniciou o trabalho sem acompanhamento técnico, sem projeto estrutural, sem projeto de fundações e sem projeto aprovado pelo Município. Minha contratação se deu com a obra em forte andamento, e o que queriam é que eu assinasse papel e não me metesse na execução, o que gerou brigas e conflitos entre nós, há diversos registros por mensagens inclusive.

Atualmente me pressionam o tempo todo para que eu assine a liberação da etapa dos camarotes em obras, o que não farei. Se outro profissional entender que pode fazer, desejo sorte ao mesmo e não recomendo.

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A população estará segura se ocupar alguma estrutura? Existe alguma situação em que a obra possa ser embargada pelo CREA ou Prefeitura?

Não estou acompanhando a obra nesta etapa, até porque sugeri a paralisação para a realização dos projetos, já citados. Entendo não ser correto utilizar as estruturas nestas condições e acho sim, que uma fiscalização embarga a obra. Entendo que a população não deve utilizar a estrutura nas condições atuais, antes de que seja contratado projeto de reforço estrutural e que o mesmo seja executado, Não garanto a segurança da população na obra atual e não recomendo o uso dela, pois está inacabada.

O porquê dos aterros externos aos camarotes?

A recomendação que fiz, inclusive por escrito, mesmo antes da queda das paredes foi que a Assercal realizasse um aterramento externo às paredes, de forma provisória, para garantir que as mesmas não caíssem em período de chuva ou ao natural, com a pressão do aterro interno, causando mais prejuízos econômicos.

Tal aterro em execução, neste momento, o qual não acompanho, é uma estrutura emergencial para garantir a estabilidade do que foi executado e tal medida não permite o uso das mesmas com o público, apenas evita a queda das mesmas. O interesse é em preservar o que foi executado de forma açodada, para tentar salvar futuramente com um projeto estrutural complementar.

Destacando que, algumas perguntas, foram realizadas ao engenheiro antes da comunicação da Assercal sobre o cancelamento total do uso da estrutura do módulo 1. A reportagem, estava contatando o engenheiro em períodos anteriores.

Em contato com o Prefeito Márcio Amaral, ele destacou que a Assercal foi notificada diversas vezes. “Infelizmente, começou mal e agora o desafio é tentar resgatar a obra pra recuperar a ideia que era boa.”- comentou.

Nota da redação: devido ao fechamento da reportagem ter ocorrido às 22h, não colhemos ainda a posição dos envolvidos: Gilson Vaucher e Assercal.

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Rodrigo

Nosso dinheiro jogado na lata do lixo ou seria no bolso de alguém??? Isso naompode ficar assim mesmo.e dinheiro público.cade o ministério público??