Revolução de 1923 completa 100 anos, ponte sobre o Rio Ibirapuitã guarda histórias do confronto

A revolução foi a primeira a utilizar armas pesadas, as metralhadoras da Brigada, advindas da 1ª Guerra Mundial.

“Reconhecer e não deixar as tradições morrerem é primordial para a sociedade”, a frase foi proferida pelo artista plástico Derli Viera da Silva, o Chapéu Preto. Todos devem saber a origem do nome da cidade, fundada pelo Marquês de Alegrete, mas conhecer somente isso não é o suficiente, pois o verdadeiro significado vem de uma cidade antiga de Portugal que tem o mesmo nome, comenta Chapéu. Ele relembra a sangrenta Revolução de 1923, que teve a Ponte do Rio Ibirapuitã como uma dos palcos decisivos da revolta, “Nossa cidade tem a história viva”, finaliza.

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O fotógrafo Décio Marini, em relação ao tema História e Fotografia, comenta que as imagens contam detalhes, tanto pode ser de uma família, como de uma cidade inteira. Ele ressalta que o Centro de Pesquisa e Documentação de Alegrete (CEPAL) é extremamente importante, pois possui amplo acervo de fotos do município.


O ano era 1923, quando iniciou a última revolução do Rio Grande do Sul, muitos gaúchos estavam descontentes estado afora. Borges de Medeiros permanecia no poder há anos, ocorreu fraude nas eleições e não havia perspectiva de novo pleito; a crise pecuarista crescia com o término da guerra, a exportação de carne diminuiu drasticamente; com isso o êxodo rural iniciou, juntamente com o crescimento desordenado das cidades; 64% da população era analfabeta; os ideais de governo voltavam-se somente às indústrias, deixando o campo sem investimento.

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Foram esses fatores que mobilizaram os opositores da administração vigente, o Estado foi dividido por regiões, com seus comandantes. A fronteira-sudoeste ficou a mando do cachoeirense Honório Lemes, que era simples e tratava cada soldado como um igual, tanto é que conseguiu o maior número de combatentes, sendo reconhecido como o Leão do Caverá, estima-se que sua tropa tinha três mil homens, por usarem lenços vermelhos, também eram conhecidos como maragatos. O líder conseguiu ocupar Alegrete, Dom Pedrito, Quaraí, São Gabriel e Rosário do Sul, contudo Uruguaiana era conduzida por Flores da Cunha, que defendeu com afinco os limites do município, impedindo invasores, o grupo, por usarem lenços brancos, ficou conhecido como chimangos. Cunha recebeu uma missão: perseguir o Leão do Caverá e seus soldados.


Uma das batalhas mais avassaladoras foi o Combate da Ponte do Ibirapuitã, que ocorreu no dia 19 de junho de 1923. No dia anterior ao embate, em uma temperatura extremamente fria que não perdoava nenhum dos lados, Honório Lemes e sua tropa chegaram a terras alegretenses, foram apresentados aos correligionários, que os receberam com festa e alegria.

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O primeiro plano de combate proposto visava explodir a ponte, o que não foi aceito por Honório, o comandante tinha como objetivo atrair os inimigos para a Serra do Caverá, local que conhecia muito bem e que sabia que seria de difícil persistência para os chimangos. Enquanto isso, Flores da Cunha já tinha abrigado seu exército a 700m da ponte, na várzea verde. O embate teve início e Flores da Cunha utilizou as metralhadoras da Brigada, obtendo vantagem, porém, ao outro lado da ponte, os maragatos firmaram ainda mais, tanto que Cunha já não tinha recursos, o próprio Coronel foi baleado e o tenente-coronel Oswaldo Aranha também, morreu o Major Guilherme. Honório Lemes também teve perdas: Teco Timbauva e o tenente-coronel Maurício Abreu. Por fim, Lemes levou seus homens para a Serra do Caverá, o grupo ficou fragilizado e pelos meses seguintes o Coronel Flores da Cunha perseguiu o grupo de maragatos.

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O fim da guerra ocorreu em 14 de dezembro de 1923, com o Acordo de Pedras Altas, que firmou mais um período de governo de Borges de Medeiros (ao todo governou por 25 anos) e a proibição da reeleição. O maragatos tiveram de contentar-se com mínimas mudanças.

O PAT conversou com Rodrigo Guterres, diretor do setor de Cultura, que explanou os planos da Prefeitura Municipal para os 100 anos da Batalha do Ibirapuitã, uma apresentação cênica será preparada para relembrar a última revolução civil. A data ainda não está definida, mas acontecerá no mês de setembro. Ocorrerá um espetáculo de som e luz com toda a história que antecede a batalha e o combate em si, o mangueirão do CTG Farroupilha será o palco, uma equipe reproduzirá a ponte da época. Pode-se dizer que será uma apresentação teatral a céu aberto organizada por um produtor de outra cidade, com experiência em espetáculos do tipo, o elenco contará somente com alegretenses

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