“Seja escutado”; muita gente atendeu esse chamado

Todos têm um jeito particular de enxergar o mundo. Sempre que olha-se para algo ou alguém, as crenças e experiências que influenciam a percepção podem ser bem distintas, mas é relevante saber que é imprescindível o ato de doar-se aos outros, para construir consciência de que a coletividade importa, soma e deve ter participação de todos.

No Alegrete ainda é assim: guria, a cavalo, faz compras e entrega produtos do Avon para as clientes da mãe

Como disse santo Agostinho: “Ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom no que faz.” Canalizar a energia, o tempo e as habilidades para a realização de um propósito faz muita diferença, traz paz.

Na tarde de domingo(19), por volta das 17h, quem passou pela Praça Getúlio Vargas, no mínimo ficou curioso para saber a razão de um jovem estar com uma venda nos olhos e um cartaz: seja escutado.

O objetivo do alegretense de 23 anos, ao ter esse ato de empatia, foi de levar solidariedade, amor e compreensão às pessoas. A venda nos olhos, é para que todos que foram abraçados tivessem a certeza do quanto são especiais, pois o jovem não estava lá para julgar ninguém. Todos que quisessem um abraço ou conversar, ele estava lá para abraçar e ouvi-los.

Entretanto, o alegretense Daniel disse que saiu de casa para ajudar as pessoas, pois sempre foi alguém que recebeu muito amor e vê a necessidade nos dias atuais das pessoas serem ouvidas.

O altruísmo assim é raro, mas existe

“Eu estudo há quatro anos para concurso( auditor fiscal da Receita Federal), esse é meu desejo para ter condições financeiras para ter muitas instituições que possa ajudar pessoas em vulnerabilidade social, essas que, diariamente, ficamos sabendo do quanto passam por preconceitos em razão de raça, cor e condição financeira. São muitos sonhos desfeitos pela falta de inclusão”- pontua.

Durante o período que esteve na Praça, Daniel disse que 25 pessoas o abraçaram, entre elas, crianças e adultos. “Eu ganhei muito mais do que todos, pois todos me iluminaram. Teve alguém que cantou pra mim e outros que se emocionaram com o abraço. Estatisticamente, entre 10 e 30% da população atualmente vive algum quadro de ansiedade ou depressão. Elas, muitas vezes, desejam apenas um abraço e alguém que possam desabafar. Sem ver quem está falando, pode ser mais um motivo para que se sintam mais à vontade”- cita.

O jovem ressaltou que o divisor de águas em sua vida ocorreu aos 17 anos quando ficou mais de 6h em coma alcoólico. “Quando eu era jovem, cheguei a ser arrogante, pensava que a vida tinha que ser regada a festas e o mundo virtual, os jogos da época. Assim, eu passava a maior parte do tempo embriagado e não perdia as “baladas”, até acontecer algo que eu poderia ter perdido minha vida, e o que mais impactou é que as pessoas que me salvaram foram as que eu jamais iria imaginar, foram os “estranhos”, não o meu grupo que eu julgava que era as minhas referências.”- lembrou.

Simulacros de bombas em pontes do interior mobilizam BM, BOPE, Exército, GM e Bombeiros

Daniel que prefere não ter todo o nome divulgado, pois acredita que o mais importante é o seu propósito, acrescentou que depois de sair do hospital, o vazio que sentia era ainda muito maior do que quando ele tentou preencher com a bebida e as festas. Na casa dos pais, ao entrar, foi recebido pelos progenitores e pelos avós, o choro foi inevitável e a partir daquele momento ele decidiu que a vida teria outro rumo.

Passou a estudar e entrou para o Exército por meio do NPOR e depois de quase um ano, percebeu que o desejo era dar continuidade ao sonho que sempre teve, auxiliar quem é menos favorecido e decidiu pelo concurso. Ele se mantém firme e, ao passar na primeira etapa depois de 12 reprovações, decidiu dar um pausa e surgiu a ideia de fazer algo a mais.

“Meu sonho é ser auditor para ter subsídios e ter as instituições, mas mesmo sem valores expressivos agora, eu posso ajudar e a maneira que encontrei foi essa, dando algo muito importante, amor, carinho e solidariedade. Por esse motivo, fui no Parque Rui Ramos no sábado e domingo aqui na Praça Getúlio Vargas’. completou.

Mais que uma árvore, o simbolismo de uma vida está presente no Ipê branco do Parque

A pequena Antônia, de 8 anos, disse que estava brincando e, ao passar pelo local sentiu vontade de abraçá-lo.

O alegretense disse que o sonho de ajudar os mais necessitados é pelo fato de que pode ser luz para muitos desejos e o que aconteceu com ele, acelerou a sua maturidade, mais ainda por ter encontrado uma pessoa muito especial que o fez ler muitos livros. O motivo, foi em razão de que minha ex-namorada, me mostrava a realidade do mundo e quando eu não compreendia, devorava um livro em busca de conhecimento para entender o que ela estava dizendo e foi assim, que ela foi a grande responsável por muito do que sou hoje. Ela reside em outro estado, mas jamais vou esquecer o que fez por mim”-concluiu.

Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários