Dependência digital: um problema que afeta, principalmente, crianças e adolescentes

A dependência digital tem afetado cada vez mais famílias, crianças e adolescentes são os mais atingidos.

A novela Travessia, da Rede Globo, abordou muitos temas relevantes para a sociedade, principalmente, aqueles envolvidos com o mundo virtual, sobretudo com as redes sociais. No início da trama, a personagem central, Brisa, teve a vida mudada por uma deepfake – que é uma inteligência artificial que utiliza um logaritmo capaz de criar vídeos falsos que recriam situações que determinado indivíduo não fez, imagens de fisionomias são combinadas para simular expressões e falas divulgadas nas redes sociais. Brisa teve seu rosto envolvido em um crime de sequestro de crianças em uma publicação nas redes sociais. Associada a esse crime, foi linchada, mas conseguiu escapar.

Outra situação ocorreu com a personagem Karina, que se envolveu virtualmente com uma menina da sua idade, fez confissões e mostrou sua intimidade. Entretanto, conversava com um homem mais velho que se passava por essa garota, por meio de um programa de alteração de face e voz. O pedófilo assediou e chantageou a adolescente após conseguir fotos íntimas suas, Karina sofreu algo chamado estupro virtual, uma vez que foi obrigada a fazer o que não desejava, como tirar sua roupa para não ter suas fotos expostas em toda rede. Ela sentiu-se tão humilhada que parou de conversar com as pessoas a sua volta e apresentou claros sinais de estado depressivo.

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Para além desses casos, Théo, um menino que teve dependência virtual, não conseguia se desligar dos jogos de computador, assustando os pais. Uma das medidas que os responsáveis tomaram foi levá-lo para a terapia, mas ao invés de comparecer às consultas, o menino ia a um cibercafé jogar. Ao descobrirem isso, os pais decidiram trancá-lo em casa sem computador, internet e até energia. Em surto, Théo quase bateu em seus familiares.

Esses assuntos alertam para temas que envolem a Internet, contudo a intenção dessa matéria é analisar a dependência digital e como ela influencia a vida das pessoas na sociedade, principalmente os mais jovens. Primeiramente, é importante criar um conceito de dependência digital, considerada um transtorno mental, agindo como dependência química, o Transtorno de Dependência de Internet (TDI) faz com que a pessoa afetada passe mais tempo nas telas do que no mundo real. Geralmente são aqueles indivíduos que não dormem para ficar nas redes sociais ou jogos, que trocam a vida social por amizades virtuais. Infelizmente, o TDI acomete mais crianças e adolescentes, pois esse público é naturalmente ligado ao mundo virtual, porém as consequências são muitas, como demonstra a novela Travessia.

Os pais e responsáveis ficam cada vez preocupados com essa situação, sendo assim, o PAT entrevistou duas especialistas no assunto para elucidar questões sobre o tema, a professora pedagoga Alessandra Brasil Vieira Brasil, formada pela URCAMP, pós-graduada em Gestão Escolar, pela Universidade Castelo Branco, e Orientação Escolar, pela Universidade São Luís. A professora pedagoga Flávia Nery da Silveira tem especialização em Neuropsicopedagoga, AEE – Educação Inclusiva e ABA (Análise do Comportamento Aplicada), pós-graduanda em TDAH e dislexia, atualmente trabalha na Neuropsicopedagoga da URCAMP e na escola Raymundo Carvalho, também é professora da Sala de AEE do Colégio Divino Coração.

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Um dos questionamentos feitos pelo PAT é como identificar se a criança ou adolescente é um dependente digital. A professora Flávia Silveira comenta que o celular, tablet e computadores têm uma gama de ferramentas extremamente atrativas que podem impulsionar a curiosidade, estimular o desenvolvimento e dar possibilidade de acesso a conhecimentos que antes tínhamos apenas pela transposição oral ou em livros. No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o seguinte em relação ao uso das telas:
– Menores de 2 anos: nenhum contato com telas e vídeo game;
– Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;

– Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
– Dos 11 aos 18 anos: duas e três horas por dia.

O acesso às telas, na maioria das vezes, é utilizado como entretenimento, o que causa satisfação e até dependência, restringindo possibilidades. Se a criança ou adolescente apresentar os fatores listados já será um alerta: ficar muito tempo vidrado nas telinhas; ter acesso a conteúdo inapropriado; trocar o dia pela noite; abandonar o convívio, a rotina e as atividades sociais. Abandono parcial ou completo do convívio social, como práticas esportivas, culturais e de lazer. Sofrer queda no rendimento das aulas. Estar envolvido em episódios de bullying. Ex: cancelamentos nos círculos sociais da net. Desenvolver problemas no corpo e na mente: obesidade, sedentarismo, transtornos do sono e alimentares, irritabilidade excessiva, depressão e ansiedade.

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A professora Alessandra ressalta a importância da família. Os responsáveis pela criança em formação devem redobrar a atenção e ficar atentos ao tempo que os pequenos ficam conectados e quais conteúdos estão sendo explorados por eles. Priorizar o diálogo e estabelecer acordos relacionados ao período que a criança vai ficar vendo TV, ou no celular, é a melhor forma de lidar com o tempo de uso das telas. Quando já foi detectada a dependência digital, conforme a educadora, é preciso entender que as crianças e adolescentes podem ter dificuldade para perceber a passagem do tempo, então cabe aos responsáveis limitar esse período. É importante ser firme e não mudar de ideia para que os limites fiquem claros. Criar um horário para a interação entre a família também é importante. Promover a comunicação e a interação social é fundamental para desenvolver o psicoemocional da criança, bem como fortalecer vínculos familiares. Para a segurança, faça verificações aleatórias de mensagens de texto e outros conteúdos do telefone e converse abertamente com seu filho sobre os riscos do uso das mídias sociais. Alertar sobre o risco de conteúdos inadequados e exposição pessoal, sobre o cuidado nas conversas com desconhecidos online e na divulgação de dados pessoais, além do cyberbullying, que são práticas de agressões virtuais, é muito importante para a segurança das crianças e jovens. Flávia complementa afirmando que diante desse cenário é necessário compreender a função educativa e recreativa da tecnologia para estimular as crianças e adolescentes a assumirem responsabilidades no seu meio social. A primeira intervenção é se desconectar aos poucos. Não adianta retirar totalmente a tecnologia, de forma abrupta e definitiva, isso só irá gerar mais comportamentos agressivos. De 1 hora passa-se para 45 min na primeira semana como, exemplo, sempre com a ajuda e apoio de uma agenda organizacional, feita pela família e o jovem, em que ele possa discriminar suas funções e tarefas. Nos casos em que há dependência de vídeo games, é preciso avaliar possíveis transtornos e buscar Terapias Cognitivo Comportamentais.

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O PAT perguntou às professoras como os pais ou responsáveis podem agir antes de ocorrer a dependência digital, a pedagoga Alessandra reitera que, em relação às redes sociais, elas possibilitam muitos benefícios, como o acesso fácil a conteúdos e pesquisas e nos relacionamentos, mas elas também podem impactar negativamente a saúde mental e emocional dos usuários quando não são usadas adequadamente. É necessário ter mais atenção quanto ao tempo gasto pelas crianças, nas redes, e aos conteúdos que elas exploram. Assim, é possível auxiliá-los no uso saudável das mídias sociais e preservar a saúde mental, emocional e física.

A especialista Flávia deu dicas de como intermediar a relação dos filhos e a internet: os responsáveis devem estabelecer regras e limites para o uso das tecnologias; oportunizar e diversificar as atividades do dia a dia do seu filho no contra turno escolar; o ócio nos torna criativos; trocar a senha do wi-fi por combinados. Estipule tarefas de casa que seu filho possa cumprir como: arrumar o quarto, lavar a louça, dar comida para os cães, fazer a lista de mercado, dobrar a roupa. Proporcione ao seu filho leituras, momentos em família, como caminhadas ao ar livre, uma refeição. Leia com ou para o seu filho.

Uma realidade é vista nas falas das especialistas entrevistas: a família é primordial para o desenvolvimento do indivíduo, por esse motivo, deve estar atenta às tecnologias benéficas e se não tiverem controle por parte dos pais, torna-se prejudicial para o jovem, os estudos e seu convívio em sociedade. Finalizando com a reflexão da professora Flávia: “É importante que a família se faça presente no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente, estabelecendo trocas contínuas e fazendo-se tão importante e significativo quanto os instrumentos tecnológicos, salientando que todo recurso, quando bem conduzido, é ferramenta de apropriação para o desenvolvimento, nutrindo nossas potencialidades e fazendo parte do nosso cotidiano”.


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