Morrer de amor, às vezes, não é só uma expressão poética

O amor e a saudade levaram meus pais - assim inicia o texto do advogado Sivens Carvalho.

A expressão “morrer de saudade” parece mais poesia do que realidade, mas esse sentimento, de fato, pode afetar diretamente a saúde e, segundo especialistas, o problema pode fazer com que a expressão ganhe significado literal, levando a pessoa à morte.

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O alegretense Sivens Carvalho recentemente perdeu o pai, Ives José da Silva Carvalho, que faleceu aos 93 anos no dia 31 de janeiro, cerca de seis meses depois da morte da esposa com quem compartilhou a vida por mais de 60 anos. Tereza Gomes Carvalho, faleceu aos 81 anos de um infarto fulminante em junho de ano passado

Na homenagem aos pais, o advogado citou:

Ele partiu no rastro de seu amor, não resistiu e a saudade se transformou em dor.

É certo que por ser de idade avançada a qualquer momento isto iria acontecer, mas é como aconteceu que nos faz tratar com naturalidade e compreensão o fato e seguir em frente.

Há 10 meses foram vistos, os dois, rezando juntos. Na oração citavam cada um dos filhos, faziam pedidos de graça, segundo seu entendimento, do quão cada um necessitava do olhar de Cristo.

A religiosidade da mãe sempre foi marcante e levou ele junto mesmo que jamais tenha abdicado do catolicismo, religião de seus pais dizia.

Sua religiosidade me levou ao batismo, a comunhão, a crisma, ao grupo da perseverança e no Interact; onde depois da escola aprendi a conviver em coletividade, ignorar as intolerâncias do mundo e seguir em frente, e olhar que o outro a meu lado precisava mais do que eu.

Alguns dos vícios terrenos às vezes o atrapalhavam, mas sua parceira desta vida, o trazia sempre de volta, porque para ele a família e ela estavam em primeiro lugar.

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A inquietude dos filhos com as injustiças, as desigualdades e os movimentos de liberdade e democracia dos anos 80 os despertou para o combate, a mãe no meio comunitário, o pai no Sindicato dos Eletricitários, ela uma Madre Teresa do Ibirapuitã, ele defensor incansável dos direitos dos trabalhadores, um Olívio.

Ele, era das exatas, nos impedia de usar borracha para apagar, dizia, presta atenção em aula que não vai precisar disto, sequer comprava, e não admitia cadernos com orelhas. Pela manhã nos chamava para a escola já com o café pronto e só nos cobrava os estudos. Só não me impediu de trabalhar fora aos 14 anos porque prometi que não abandonaria a escola. Também sonhava ser professor, de matemática, fazia qualquer conta de cabeça e abominava a calculadora, mas se fosse de geografia ou história seria também ótimo mestre, pois tinha na ponta da língua lugares, fatos e datas históricas. Aliás, se notabilizou por contar histórias, fazia isto por horas sem se cansar, mas o fato de ter que trabalhar cedo, aos 7 anos, e depois a sucessão de filhos (10) o impediu, mas o nosso avanço era sua satisfação e orgulho.

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A mãe era costureira e uma artesã de mão cheia. Transformava em arte qualquer coisa. Aprendi a fazer flores ornamentais com ela e a gostar de carnaval ajudando-a a bordar fantasias. O pai, eletricista, complementava a renda, fazendo instalação elétrica por toda cidade. Não raro eu o esperava com a maleta de ferramentas na frente da TermoAle depois do expediente, quando guri.

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Nos últimos tempos, aposentado e diante da evolução tecnológica, fez do tablet que ganhou da filha um parceiro inseparável. Nele, acompanhava as notícias do mundo, do esporte à política, se quisesse me inteirar de algo era só perguntar a ele.

Depois de sua esposa e da família, suas paixões eram a política e o Grêmio. Como bom gremista torcia sempre para o time que jogava contra o Inter e não era secador, kk. A mãe era gremista e colorada, dependia do filho ou neto que perguntasse.

Mas comecei isto falando de amor, saudade e partidas. Tenho que a mãe partiu por amor, já não tinha mais forças para cuidá-lo e isto ela não admitiu, morreu nos seus braços de forma serena e em paz.

Ele, não resistiu muito tempo, não admitia ter ficado sem ela. No caminho ainda teve de despedir-se de um filho, mas a ausência dela o fez fenecer. A cada fato, cada história, cada passo lembrava dela. O corpo enfraqueceu com a sua entrega à saudade, ao amor.

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Até hoje, ignorava que isto era possível, a dor de amor tem até um nome, chama-se Cardiomiopatia de Takotsubo. É uma espécie de infarto, só que sem nenhuma artéria bloqueada. Pacientes com sinais de cardiomiopatia sentem dores no peito e os exames de eletrocardiograma mostram as mesmas mudanças. De acordo com o médico clínico geral de Campinas Jamiro Wanderley, quem não sabe lidar com a saudade pode ter uma depressão e outras doenças graves.

O que nos conforta é que tivemos a graça de conviver com eles o tempo de Deus, que eles se amavam e nos amavam, é como ela falava, e ele que partiu por amor e por amor deixou seus amores.

“A saudade vai continuar, vai ser eterna, assim como, o amor”- conclui.

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