De “boleira” a advogada, Karine ensina que é preciso muita superação e fé

A história de Karine Jaques Silveira, uma jovem alegretense de 34 anos, é marcada por dedicação, superação e fé inabalável. Enquanto cursa o 10º semestre de Direito na Urcamp-Alegrete, Karine leva consigo uma trajetória de lutas e obstáculos que moldaram sua habilidade em conquistar seus objetivos.

Nascida em uma família simples, Karine enfrenta desafios desde cedo. Aos 12 anos, motivada pela vontade de ajudar sua família em meio às dificuldades, ela começou a fazer bolos caseiros para vender. Ela é casada e mãe de uma  filha de 8 anos.

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O início

Em uma entrevista ao PAT, Karine cita que sua história de vida e superações é a seguinte: ela é de uma família simples, a mãe era do lar (já  é falecida), e o pai pequeno produtor rural ( atualmente aposentado). Em meados de 1999, o irmão, na época com 15 anos, foi hospitalizado e transferido para o Hospital de Clínicas de POA, onde passou três meses. Quando voltou para Alegrete estava com sequelas de três AVCs. “Minha família teve que vir morar na cidade, pois até então,  vivíamos na zona rural. No começo passamos por várias situações. Uma delas, eu lembro que  ficamos vivendo de favor na casa da minha avó materna, durante alguns meses. Quando houve a “invasão” do bairro Airton Sena, minha mãe  foi uma das primeiras moradoras. Foram tempos difíceis,  pois não havia luz, água, ruas e ainda, para completar, minha mãe tinha que caminhar por três quadras para pegar o ônibus e levar meu irmão, em consultas e outras necessidades, pois ficou deficiente devido aos AVCs que sofreu”- cita.

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Diante daquela situação, ela pensou em fazer algo para ajudar, pois queria ser útil. Com apenas 12 anos, solicitou que a mãe a ensinasse a fazer bolos pra vender. “Tenho em minha memória, os bolos que ela me ensinara: bolos de bergamota e bolo de chocolate. Eu os assava em um fogão (branco) lenha”- se emociona ao lembrar.

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O início das vendas foi com o valor de 0,50 centavos. Karine comenta que a mãe sempre foi uma guerreira e a incentivava a estudar, mesmo com os dias chuvosos a obrigava a ir à escola. Ela sempre falava:” o que eu posso fazer  por vocês é incentiva-los a estudar, a serem alguém, pois não quero partir e deixar vocês  desamparados”.

Por esse motivo, a alegretense afirma que sempre foi a mais ” rebelde” e “atrevida”, não levava desaforo pra casa. Ao total, são cinco irmãos( três  mulheres e dois homens) ela é a do meio e concluiu o ensino médio em meados de 2005/2006. Na sequência, residiu na cidade de Igrejinha entre 2009 e 2011, trabalhou em farmácia,  como atendente, em supermercados como serviços gerais, e por último, na empresa de calçados Usaflex, onde permaneceu por um ano. No final de 2010, foi diagnosticada com depressão.

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“Foi uma das fases mais difíceis da minha vida. Voltei para Alegrete, definitivamente, em  junho de 2011. No final  de agosto, do mesmo anos, minha mãe faleceu.  Era minha base. Fiquei depressiva durante quatro anos. Nesse tempo, eu estava recebendo benefício do INSS e passei por vários psiquiatras e psicólogos, fui internada várias vezes. Muitos me abandonaram, pois eu estava totalmente irreconhecível”- complementa. 

Entretanto, Jesus Cristo, jamais a abandonou, foi ele quem deu força e ânimo, atesta. Karine ressalta que tem a plena certeza de que Jesus sempre cuidou dela e, em meados de 2014, ela já estava residindo com o esposo (casaram oficialmente em 2015), e então planejaram a amada filha, que agora está  com 8 anos. “Eu estava de laudo médico e solicitei alta médica, voltei para cidade de Igrejinha e pedi rescisão do meu contrato de trabalho. O que eu recebi do “acerto” foi em torno de 300 reais. Logo após o nascimento  da minha filha,  os gastos aumentarem. Então eu tive a ideia de começar a fazer  pães caseiro e vender aos vizinhos.  Minha filha, ainda era um bebê”- relembra.

Neste período, ela percebeu que seria uma oportunidade de renda rápida. Foi então, que lembrou da época em que vendia bolos em fatia e também passou a fazê-los e vender. Com os valores investiu em potes para transportá-los, pois naquele período não tinha carro, então carregava em baixo do suporte do carrinho da filha. Em 2016, comprou o primeiro carro zero, pois tinha um Uno e o vendeu, guardou o valor para comprar o sonhado carro zero. Com o dinheiro de entrada e o financiamento em pocas parcelas, o primeiro sonho foi realizado. Já em 2018 com quase 13 anos sem estudar ressurgiu o sonho antigo de ser advogada.

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Karine fez vestibular na Urcamp Alegrete  e passou. (Não me pergunte a nota, pois até hoje não sei – sorri). “Creio que foi o agir de Deus”. É  claro que ela se esforçou e estudou um pouco as regras de redação. Na sequência, ingressou na faculdade na turma de inverno, no segundo semestre de 2018.

“Eu ainda trabalhava, como autônoma, vendia bolos de cenoura com cobertura de chocolate, bolo de banana com canela, bolo de milho, salada de frutas, pudim, arroz de leite, suco natural, pão caseiro, dentre outras delicias. Antes da pandemia, decidi parar de trabalhar pois eu estava sobrecarregada. Meu esposo disse pra eu me dedicar aos estudos. A mensalidade era alta e eu sabia que iríamos ter que enxugar as contas. Foi então que eu me lembrei, que eu teria a possibilidade de fazer o Enem e tentar  uma bolsa integral.  Me inscrevi no Enem em 2019 e passei. Entretanto, perdi o prazo  pra me inscrever no Pro uni.  Em 2020 fiz novamente o Enem e passei,  novamente perdi o prazo da inscrição pro Pro Uni. Em 2021 fiz novamente o Enem  e passei. Entretanto perdi o primeiro prazo pra me inscrever no Pro Uni. Então eu pensei: ” não é  possível eu perder os prazos” Diante daquela situação,  não  me conformei e fui em busca de uma solução.  Pesquisei no Google e descobri que havia a possibilidade de me inscrever no Pro uni remanescente, cuja inscrição seria em meados de agosto.  Fiquei de olho no prazo. Me inscrevi e fiquei em 7º lugar.  Havia, apenas três vagas. Eu estava em sétimo”- comenta essa passagem.  Entretanto,  algo a fazia acreditar que o impossível iria se realizar e que uma daquelas vagas seria dela. Não desistiu e conseguiu uma bolsa de estudos de 100 por cento. Essa bolsa no sétimo semestre, a fez respirar mais aliviada.

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“Eu vendia os “lanches” no comércio de Alegrete, principalmente,  na rua dos Andradas, Barão do Amazonas. Vasco Alves, Mariz e Barros e dentre outros.  Também,  nos bairros Promorar. Ibirapuitã, Vila Nova, Bairro Inês,  cidade Alta e mais. Meu esposo, também me ajudava a “vender ” os lanches.  Ele levava nas viagens e vendia aos colegas e conhecidos. Hoje eu me dedico a conclusão do curso de Direito. Ainda faço alguns bolos. Só pra não  “perder a mão ” e, também, tem muitas pessoas que são meus clientes fiéis”- enfatiza.

Karine passou no 37 lugar do exame da OAB, na primeira e na segunda fase. Hoje, a rotina é ir à  faculdade assistir as aulas que são ministradas à noite e ir ao Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ) nas tardes, pois é  lá  que sempre estagiou. Ela completa que sempre foi uma acadêmica assídua na frequência das aulas durante o curso, mesmo na época que ainda trabalhava em torno de 12 horas diárias.

“Quero falar um pouco sobre minha fé.  Sou cristã.  Atualmente, faço parte da Igreja  “hora de despertar ” situada na rua Lúcio Faraco, 130, bairro Nova Brasília. Também, sou missionária e líder do grupo de jovens, além de ministrar no programa de rádio “hora de despertar ” que vai ao ar todos os sábados às 14 horas na Sentinela 104.9 fm. A pastora Marta Dias e eu, estamos à frente desse trabalho, o qual é de suma importância. Quero deixar uma mensagem de motivação. Esta em uma passagem bíblica e que diz o seguinte: “Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”. JOSUÉ  1:9.”- pontua.

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Essa palavra faz parte da sua história de vida e do desejo que todos que lerem a matéria, sejam motivados a terem fé em Jesus Cristo, pois da mesma forma que Jesus a ama e a abençoa todos os dias, ela deseja que as pessoas conheçam esse Deus o qual serve – destaca a advogada.

Sobre os planos para o futuro,  Karine conclui: “estão todos nas mãos do Senhor e Salvador Jesus Cristo e preparados por Deus.Tenho a certeza de que ele tem o melhor pra mim e para os meus familiares.”

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